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Um euro por semana! Custa muito?

Quinta-feira, 15.12.11

 

Nos últimos dias, em várias estações de televisão, tem-nos sido dado observar a fome e o desespero de milhares de portugueses privados de trabalho e quaisquer meios de subsistência, tendo de recorrer a instituições de caridade para garantir uma refeição, por dia, para si e para os seus filhos.

 

Dói ver a humilhação nos olhos de quem, tantas vezes e tantos anos, lutou para viver com independência e dignidade assistir ao derrocar, sem culpa própria, de todos os projetos e objetivos de vida próprios e dos seus descendentes. Apesar de tudo, como muitos dizem, nada mais lhes resta para se manterem vivos que a sopa pública.

 

Não sou adepto da caridade e sempre aceitei como bom o aforismo de mais valer ensinar a pescar que dar um peixe a quem tem fome. No entanto, que fazer quando não há já peixe no rio ou, por malvada sorte, nem mesmo o rio existe já?

 

Também tenho verificado a angústia espelhada e expressa nos rostos e vozes de quantos, responsáveis pela gestão de tais instituições, apontam para a exiguidade de recursos, o aumento exponencial de necessitados a acorrer aos seus bons ofícios e a pungente certeza de que, com muita brevidade, vão deixar de prestar o seu precioso auxílio, porque as verbas são escassas e começam a exaurir-se por tanta necessidade. E, caros amigos, como se diz, ainda a procissão vai na praça porque o próximo ano a calamidade se abaterá, sem dó nem piedade, sobre muito mais famílias mesmo, longe vá o agouro, de muitas que hoje, livres ainda da angustiada situação de carenciados, se verão, por inusitados acontecimentos, na posição dos que hoje já têm de recorrer às boas vontades alheias.

 

Confrangido com a realidade visível, amargurado pela impotência pessoal, revolvi a inventiva na busca de alguma solução, dentro das nossas possibilidades efetivas, que pudesse remediar estes dois males: o crescimento da necessidade e o decréscimo das possibilidades de ajuda. Ocorreu-me então a imagem da galinha que grão a grão enche o seu papo. Vi aí um possível remédio! Como? Perguntarão?

 

A resposta é ao mesmo tempo simples e complexa. Simples porque permitiria manter, durante a crise, o auxílio aos necessitados. Complexa porque necessitaria da coordenação de boas vontades e trabalho em rede de voluntários e instituições de beneficência. Em síntese imaginei que num belo exemplo de solidariedade cada português prescindisse, por semana, de um euro – um só eurito – e o entregasse (através de contas bancárias, recebimento porta a porta por voluntários, entrega direta em associações e quantas mais formas se inventassem ou encontrassem) às instituições que quisessem assumir, auxiliadas pelos voluntários, a responsabilidade de lançar e manter este movimento. Confiado na generosidade dos meus concidadãos tenho a certeza que o bago a bago poderia obstar a muitos futuros atos desesperados de imensa gente.

 

Vá lá, não custa nada. Mobilize-se e, com um euro por semana, permita que o sorriso, ainda que triste, de muitas crianças se mantenha até ao dia em que a dignidade de cada um possa voltar a ser reposta e que, cada um igualmente possa, num abraço fraterno, dizer a qualquer outro: Assim evitámos o pior.

 

Conto contigo e tu, conta comigo.

 

 

Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 11:25