Até sempre, Camarada!
(Otelo estava preso em Caxias. Uma revista publicava, como capa, uma foto de Otelo, fardado, junto às grades da cela, olhando o Tejo. O momento marcou-me de tal modo ao ver a Liberdade presa, que de chofre escrevi este poema, aqui transcrito em homenagem póstuma a um dos obreiros da nossa liberdade.)
desdémona alabastrina
(para Otelo saraiva de Carvalho)
I
desdémona jaz
nos teus braços meu
capitão de mais quentes
marés
ou praias de outros tempos
rodeiam-te enclavinhadas piranhas
em excessivo gesto de amor
as mãos torneiam a ingénua humidade da vida
pérolas de dedos enegrecidos
no jeito de calar
tudo se fazia à escala espontânea de outros rios
cheirava o novo verde até às margens
incómodos cavalos no viço dos tempos
em que tudo era redondo e levado no alcantil dos dias
e os corpos
ruído transitório no vento magoado
era sombra de domingo no frágil dos ombros
olha de novo
II
desdémona jaz
esquecida a invenção do protesto
deixa que o olhar só por si se sobrenade
até ao limiar das mãos
agora
sob a soleira do tempo repousa no prumo do leito
descreve o estático espaço entre grades de olhar
que portos tocas
que estonteantes claridades acusas
na procura lancinante dos inícios
quem as mão te conduziu é que te acusa
aí estás desdémona de ti todo
onde te colocaram com a memória dos sentimentos
por estrear
braveza de tempestade nos trânsitos do espaço
como falar-te de gaivotas quando um corpo jaz
e tu olha o espelho das mãos distanciadas e breves
onde te perguntas
há coisa mais terrível que olhar por sobre um rio
III
uma imagem percorre o clarão do raio
a cidade adormecida espera a quietude dos grande temporais
olha a asa que voa
vê essa asa parada
avé ave asa ave
e que nos salve
e que nos salve
(in, Urbi – poemas datados, KDP – Amazon, 2018)
Autoria e outros dados (tags, etc)
Oumuamua
(palavra havaiana que significa “o mensageiro de longe que chega primeiro”, designação dada pelos astrónomos ao objeto em causa.)
Duas perguntas assolam os seres humanos, provavelmente, desde a sua tomada de consciência como seres pensantes: “o que é a vida?” e “estaremos sós no Universo?” As respostas vão variando consoante os tempos, a ciência e as crenças. Certezas só de fé porque as ciências e as filosofias ainda não conseguiram resposta cabal a qualquer destas incógnitas.
Interrogar-se-ão os leitores sobre a razão que me leva a, num tempo em que os problemas abundam na nossa sociedade, estar a queimar o vosso e o meu tempo com coisas que, podendo ter interesse para alguns não o terão, ou serão de somenos importância, para a maioria. Dar-lhes-ia razão não fosse este ser um pensamento errado. Com efeito conhecer a origem e a finalidade(s) da vida e se somos a única espécie senciente no Universo são questões que, a serem sabidas e compreendidas poderão alterar substancialmente os nossos propósitos e a forma de vivermos o tempo de vida que nos cabe.
Não me debruçarei agora sobre a primeira questão “o que é a vida?” e vou interessar-me apenas na segunda. Há mais vida no Universo? E poderão existir outras civilizações?
Comecemos por referir Carl Sagan quando declarava não poder afirmar a existência de vida inteligente em outros lugares, mas considerar a sua inexistência como um desperdício. Por isso, coloco já, em evidência a minha posição. Estou convicto da existência de vida em muitos planetas de distantes estrelas e, quase aposto, em bastantes deles terem aparecido, ou existem ainda, civilizações em vários estádios de desenvolvimento. Por tal crer, durante muitos anos, participei no programa da Universidade de Berkeley - SETI (sigla em inglês para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre).
Peço, a quem tiver a pachorra de continuar a ler, que não me coloque no grupo daqueles que, em tudo e nada, veem a mão de extraterrestres e ÓVNIS em toda a parte.
No entanto um aparecimento insólito no nosso sistema solar, em setembro de 2017, traz as comunidades de astrónomos, astrofísicos e parelhos em agitada discussão. Nessa data e pelo período de onze dias entrou, à velocidade de 168.000 Km/hora, no sistema solar um objeto proveniente do espaço extrassolar. Toda a gente foi apanhada desprevenida e todos os telescópios do mundo foram apontados para a “anomalia”, a qual, pelas excentricidades demonstradas, tiveram dificuldades de catalogar. Primeiro consideraram-no um cometa, a seguir, observadas discrepâncias de comportamento, foi classificado como asteroide. Porém por pouco tempo. Dado não preencher as características necessárias a essa classificação, voltaram, por falta de hipóteses a cobrirem o comportamento do objeto, a considerarem-no, de novo, um cometa. No entanto, a forma, o movimento, a modificação do sentido orbital, em conjunto com a impossibilidade de detetarem a coma ou a cauda característicos de um cometa (possibilitadoras de explicar a mudança de direção), voltaram a pôr tudo aos gritos e a aparecer, como melhor hipótese, a de ser um objeto fabricado, sonda ou lixo espacial, de alguma civilização interstelar.
O astrónomo-chefe da Universidade de Harvard, o conhecidíssimo Avi Loeb - e a sua equipa - defensor acérrimo do objeto não natural, publicou, sobre o assunto, um livro muito interessante: “Extraterrestres”, editado em Portugal pela Oficina do livro, cuja leitura recomendo vivamente. Por minha parte “devorei” o livro, procurei informação de todos os lados, ouvi opiniões, vi vídeos e decidi, rusticamente, construir uma matriz numérica que me orientasse no meio da balbúrdia. As conclusões, claro possíveis de serem outras se as características notadas ou os seus valores forem alterados, mostrou-me a possibilidade percentual de estarmos perante o produto de um inteligência intra ou extragalática na ordem dos 64%.
E mais não acrescento. Tirem as vossas conclusões, façam, se interessados, a vossa pesquisa.
Publicado in Rostos Online