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Até sempre, Camarada!

Domingo, 25.07.21

otelo e cravo.jpg

 

 

(Otelo estava preso em Caxias. Uma revista publicava, como capa, uma foto de Otelo, fardado, junto às grades da cela, olhando o Tejo. O momento marcou-me de tal modo ao ver a Liberdade presa, que de chofre escrevi este poema, aqui transcrito em homenagem póstuma a um dos obreiros da nossa liberdade.)

 

desdémona alabastrina

 

            (para Otelo saraiva de Carvalho)

I

 

desdémona jaz

nos teus braços meu

capitão de mais quentes

marés

ou praias de outros tempos

 

rodeiam-te enclavinhadas piranhas

 

em excessivo gesto de amor

as mãos torneiam a ingénua humidade da vida

pérolas de dedos enegrecidos

no jeito de calar

 

tudo se fazia à escala espontânea de outros rios

cheirava o novo verde até às margens

incómodos cavalos no viço dos tempos

em que tudo era redondo e levado no alcantil dos dias

e os corpos

ruído transitório no vento magoado

era sombra de domingo no frágil dos ombros

 

olha de novo

 

II

 

desdémona jaz

 

esquecida a invenção do protesto

deixa que o olhar só por si se sobrenade

até ao limiar das mãos

 

agora

 

sob a soleira do tempo repousa no prumo do leito

descreve o estático espaço entre grades de olhar

 

que portos tocas

que estonteantes claridades acusas

na procura lancinante dos inícios

 

quem as mão te conduziu é que te acusa

 

aí estás desdémona de ti todo

onde te colocaram com a memória dos sentimentos

por estrear

 

braveza de tempestade nos trânsitos do espaço

como falar-te de gaivotas quando um corpo jaz

e tu olha o espelho das mãos distanciadas e breves

onde te perguntas

há coisa mais terrível que olhar por sobre um rio

 

III

 

uma imagem percorre o clarão do raio

a cidade adormecida espera a quietude dos grande temporais

 

olha a asa que voa

vê essa asa parada

avé ave asa ave

 

e que nos salve

e que nos salve

 

(in, Urbi – poemas datados, KDP – Amazon, 2018)

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 12:40

Oumuamua

Quinta-feira, 08.07.21

oumuamua2.jpg

 

(palavra havaiana que significa “o mensageiro de longe que chega primeiro”, designação dada pelos astrónomos ao objeto em causa.)

 

Duas perguntas assolam os seres humanos, provavelmente, desde a sua tomada de consciência como seres pensantes: “o que é a vida?” e “estaremos sós no Universo?” As respostas vão variando consoante os tempos, a ciência e as crenças. Certezas só de fé porque as ciências e as filosofias ainda não conseguiram resposta cabal a qualquer destas incógnitas.

 

Interrogar-se-ão os leitores sobre a razão que me leva a, num tempo em que os problemas abundam na nossa sociedade, estar a queimar o vosso e o meu tempo com coisas que, podendo ter interesse para alguns não o terão, ou serão de somenos importância, para a maioria. Dar-lhes-ia razão não fosse este ser um pensamento errado. Com efeito conhecer a origem e a finalidade(s) da vida e se somos a única espécie senciente no Universo são questões que, a serem sabidas e compreendidas poderão alterar substancialmente os nossos propósitos e a forma de vivermos o tempo de vida que nos cabe.

 

Não me debruçarei agora sobre a primeira questão “o que é a vida?” e vou interessar-me apenas na segunda. Há mais vida no Universo? E poderão existir outras civilizações?

 

Comecemos por referir Carl Sagan quando declarava não poder afirmar a existência de vida inteligente em outros lugares, mas considerar a sua inexistência como um desperdício. Por isso, coloco já, em evidência a minha posição. Estou convicto da existência de vida em muitos planetas de distantes estrelas e, quase aposto, em bastantes deles terem aparecido, ou existem ainda, civilizações em vários estádios de desenvolvimento. Por tal crer, durante muitos anos, participei no programa da Universidade de Berkeley - SETI (sigla em inglês para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre).

 

 Peço, a quem tiver a pachorra de continuar a ler, que não me coloque no grupo daqueles que, em tudo e nada, veem a mão de extraterrestres e ÓVNIS em toda a parte.

 

No entanto um aparecimento insólito no nosso sistema solar, em setembro de 2017, traz as comunidades de astrónomos, astrofísicos e parelhos em agitada discussão. Nessa data e pelo período de onze dias entrou, à velocidade de 168.000 Km/hora, no sistema solar um objeto proveniente do espaço extrassolar. Toda a gente foi apanhada desprevenida e todos os telescópios do mundo foram apontados para a “anomalia”, a qual, pelas excentricidades demonstradas, tiveram dificuldades de catalogar. Primeiro consideraram-no um cometa, a seguir, observadas discrepâncias de comportamento, foi classificado como asteroide. Porém por pouco tempo. Dado não preencher as características necessárias a essa classificação, voltaram, por falta de hipóteses a cobrirem o comportamento do objeto, a considerarem-no, de novo, um cometa. No entanto, a forma, o movimento, a modificação do sentido orbital, em conjunto com a impossibilidade de detetarem a coma ou a cauda característicos de um cometa (possibilitadoras de explicar a mudança de direção), voltaram a pôr tudo aos gritos e a aparecer, como melhor hipótese, a de ser um objeto fabricado, sonda ou lixo espacial, de alguma civilização interstelar.

 

O astrónomo-chefe da Universidade de Harvard,  o conhecidíssimo Avi Loeb - e a sua equipa - defensor acérrimo do objeto não natural, publicou, sobre o assunto, um livro muito interessante: “Extraterrestres”, editado em Portugal pela Oficina do livro, cuja leitura recomendo vivamente. Por minha parte “devorei” o livro, procurei informação de todos os lados, ouvi opiniões, vi vídeos e decidi, rusticamente, construir uma matriz numérica que me orientasse no meio da balbúrdia. As conclusões, claro possíveis de serem outras se  as características notadas ou os seus valores forem alterados, mostrou-me a possibilidade  percentual de estarmos perante o produto de um inteligência intra ou extragalática na ordem dos 64%.

 

E mais não acrescento. Tirem as vossas conclusões, façam, se interessados, a vossa pesquisa.

 

Publicado in Rostos Online

 

 

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 22:35