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Prioridades e importância

Quinta-feira, 02.08.18

 

 

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Para que não subsistam dúvidas começo por indicar o meu sistema de prioridades: primeiro a família, depois o prédio onde habito, segue-se-lhe   a rua, o bairro, a cidade, o partido onde estou filiado -bem como outras instituições às quais aderi -, o país e, finalmente a Europa.

 

Esclarecidas as precedências posso, sem rebuço, dedicar-me ao tema que anda a atear fogo ao eucaliptal político desta louca estação. Refiro-me, como é evidente, ao caso Robles.

 

Passando por cima das inexistentes ilegalidades fica a questão de avaliar o comportamento e escolhas do referido. Fosse ele cidadão comum e nada haveria a dizer sobre o seu comportamento. Vivemos numa sociedade de mercado, onde o lucro é não só lícito, como fortemente desejável e acariciado. Para muito boa gente não tirar o máximo proveito pecuniário de quanto se possui – ou se possa chegar – abeira-se do pecado ou heresia. Mas adiante! Na verdade, o cidadão Robles não era um simples cidadão. Foram-lhe cometidos, por eleições a que livremente concorreu, direitos e deveres de representação e defesa dos habitantes da cidade. Ao aceitar tal encargo, ficaram-lhe, de imediato, coibidos certos atos socialmente aceitáveis ao público em geral. Entre eles o de perder a coerência entre discurso e prática. Ao fazer o que fez comprometeu, irremediavelmente a validade do seu discurso, a legitimidade da sua representação. Cabia-lhe ter percebido isso e tomar, de imediato, a atitude que veio a tomar, quando já desvalorizada pela arruaça de uma direita sem esperanças nem soluções.

 

Por outro lado, vozes fortes do Bloco, considerando sob ataque a fortaleza, foram tomadas de reações instintivas (proteger o grupo) e vieram à liça defender o indefensável. Poderemos, humanamente, perceber a vontade de terçar armas por amigo ou correligionário a ser retalhado em praça publica; o que já é inaceitável é que membros responsáveis de um Partido Político, cedam à emoção e amizade, vindo a colocar o partido na desconfortável posição de parecer incoerente com as bandeiras defendidas.

 

Vamos, certamente pagar um preço elevado por termos posto as emoções à frente do racional. Infelizmente Robles errou, nas explicações e no “timing”! O Bloco, talvez surpreendido, não foi capaz de marcar a diferença que assume e deixou a ideia de ser mais um partido, igual aos outros, cego pelos laços de pertença, incapaz de aceitar que um erro é um erro e carrega consequência seja para quem for.

 

 Por mais simpático que alguém nos possa ser, por melhor trabalho que tenha ou venha a desempenhar, seria absolutamente necessário que, por mais compreensivas que fossem, essas vozes, reconhecidas como lídimas defensoras de valores constantemente sobre fogo adversário, tivessem a coragem de assumir o erro sem demora e retirar as imediatas ilações.

 

Tal não foi feito e vemos agora alguma direita, raivosa, apontando a dedo o pecado original. Não têm memória nem vergonha. Agitam este caso como se fosse o maior escândalo cometido, por políticos, em Portugal. Vendem, em altos brados, uma virtude que não têm nem sequer procuram, a não ser nos outros. Querem que comece a enumerar os muitos maiores escândalos – esses com prejuízos à escala nacional – dos quais os autores nunca se retrataram e fingem desconhecer? Querem mesmo? Não será melhor calarem-se, olhar para a casa própria e tomar as medidas que a verdade impõe? É que se o Bloco e o seu representante na Câmara erraram, ambos já assumiram culpas. O Vereador Municipal apresentou a demissão, o Bloco veio, publicamente, reconhecer o seu erro de apreciação.

 

Ó Catões estrábicos das políticas e das colunas, quantos dos vossos defendidos já fizeram isso? E que exigência, prioridade ou importância atribuirão a tais casos? Ah! Pois, eu percebo. Não precisam de o fazer em publico como O Bloco e Robles fizeram. Guardam-se para os segredos dos confessionários ou, quando a sorte é adversa, para a barra dos tribunais.

 

Publicado in Rostos Online

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 20:09