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Ai, valha-me Deus!

Quarta-feira, 04.01.17

 

 

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Eu até não acredito nos diabos do doutor Passos Coelho. Mais, sempre que o vejo – no televisor – recuo aos tempos de infância e, com rápidas persignações, arengo tarrenego, tarrenego, vade retro! Pois é! Estão já a ver as dificuldades com que me debato. Eu não quero, nem posso dar-lhe razão. Aliás, mesmo que os apocalipses anunciados no decorrer do ano transato viessem a acontecer, os meus motivos e ações seriam totalmente diferentes dos dele. Eu não desejo a sociedade que ele quer. Penso o Estado de maneira e com funções diferentes daquelas que ele almeja e não estou, nem um bocadinho, virado para a excelência inata das gestões privadas. Se o simples bom senso não chegar para perceber que nunca poderá servir o bem comum quem apenas se interessa pelo êxito próprio, recordemos-mos do acontecido à nossa sociedade após as excelsas ações e poucas vergonhas das elites gestionárias e financeiras. Ao rever os acontecimentos penso, muitas vezes, que as máfias e alguns cultores de Esquemas de Ponzi são ingénuos aprendizes destes mestres de seguras reputações.

 

Porque razão me ponho, neste princípio de ano, com alguns arrepios?

 

A resposta mais direta, que adiante tentarei demonstrar, é a de que, mais que ver, sinto formar-se no horizonte uma frente fria. Embora possa vir a ser criticado pelos nossos melhores sabedores, recorri à Wikipédia – horror! – para melhor explicação daquilo a que me leva a entrar na linguagem meteorológica. “Frente fria é a borda dianteira de uma massa de ar fria, em movimento ou estacionária. Em geral a massa de ar frio apresenta-se na atmosfera como um domo de ar frio sobre a superfície. O ar frio, relativamente denso, introduz-se sob o ar mais quente e menos denso, provocando uma queda rápida de temperatura junto ao solo, seguindo-se tempestades e também trovoadas.”

 

Já começaram a entender o meu ponto de vista? Se considerarmos o horrível ano de 2016 como coisa um pouco menos horrível e, com essa perspetiva olharmos o recém-nascido 2017, digam lá, com verdade, se não ficam com pés de galinha ao olhar para o que por aí se anuncia? Não quero ser profeta da desgraça, mas não me imagino cego. Portanto não posso deixar de ver, a nível internacional o crescendo do vozear bélico, a corrida aos armamentos de destruição massiva, a loucura de Putins, Trumps - e como é que se chama aquela coisa da Coreia do Norte? – cada um a fazer voz mais grossa a ver se intimida o parceiro ou ganha aliado. Jogo perigoso, não acham? Esta coisa dos macacos brincarem com átomos sempre me intranquilizou. Mas, como é costume dizer-se “prontos!”, o que é que poderemos fazer além de esperar que tudo isto não passe de espirros, de constipação sem consequência de maior. Ah! Dizem-me, os refugiados? Cale lá essa boca. Não venha para a mesa proferir impropérios. Não se preocupe com coisas que só interessam aos adultos, sendo que no “(des)concerto das nações” somos apenas gente miúda, sem voto na matéria.

 

Pois, e por cá? Ó gentes! Temos a “Geringonça” a qual, não devendo a todos os títulos durar, vai comendo estrada a boa velocidade, derrotando a cada dia, os prognósticos malévolos de quem assim a apodou e esperava vê-la desconjuntar-se na primeira curva. Então, perguntar-me-ão, porque vens para aqui salmodiando tristezas, deplorando futuros? É que, como já vos disse, estou inquieto. Desde há muitos anos defendo a união das esquerdas – mesmo sobre um programa mínimo – a transformar em maioria de poder a maioria sociológica que nos vínhamos contentando em ser. Então deves estar satisfeito! O acordo não quebrou, o prometido não foi de vidro, foi-se cumprindo, o pior já está passado.

 

Ora precisamente aqui reside a minha angústia. Quando o perigo é visível tomam-se precauções. Quando nos sentimos seguros deixamos alguns cuidados de lado, desacreditamos de riscos, facilitamos a intrusão. Bolas! És mesmo desconfiado! Porque tenho razões. Lembra-te da frente fria. Lá estás tu com jeitos de pitonisa meteorológica. Troca isso por miúdos. Está bem! Comecei a ficar receoso com a inflação na Alemanha. Isso é lá com os alemães. Seria caso não pertencêssemos à moeda única e um espirro da Alemanha criar, na Europa, uma epidemia de gripe. Queres dizer? O custo dos nossos empréstimos, a dez anos, subiu para 3,9%. Ora, isso é muito mais baixo que os 7% a pôr-nos nas mãos da “troika”. Parece, na verdade sê-lo. Tem porém em conta que só podemos ir buscar dinheiro ao mercado, com o apoio do Banco Central Europeu, desde que uma agência de “ranking” nos mantenha acima da condição de lixo. É verdade! Como sabes a única a valorizar-nos é a canadense DBRS. Correto! Tomaste em devida conta a afirmação de terem de rever a posição se os juros chegarem aos 4%? Ó Diabo! Não me lembrava. Cala-te lá com invocações aleivosas. Deixa o Diabo em paz, com o Passos Coelho. Não desistas porém de preocupar-te. É apenas esta a angústia que te assalta? Antes fosse! Trago umas PPP na garganta. Isso quer dizer? Pareceria Público Privado. Assim um negócio onde o Estado põe os meios, os privados gerem, se der lucro arrecadam, se der prejuízo, o Estado – logo nós – paga! Que belo negócio. É quase o Euromilhões com a certeza de acertar. Pois é. É a isto que os investidores privados chamam a remuneração do risco. Qual risco? Isso não te sei dizer, mas lá que chamam, chamam.

 

Somente não ficam por aqui as minhas preocupações. Mais maus agoiros? Diz antes premonições. Estou com receio das autárquicas. É pá, isso são eleições locais, nada têm a ver com o Governo ou o Parlamento. É o que te parece! Observa para trás e vê os discursos dos vencedores antes das eleições e depois de as ganharem. Mudam completamente. Tens razão! Olha, o PS está a subir nas eleições. Isso é bom, não é? Claro que sim. Tira espaço à direita. Deves estar contente. Pelo contrário inquieta-me. Ora essa, a que propósito? Sabes, as nações e os partidos não têm amigos, tem aliados ou adversários e as suas juras não garantem fidelidade eterna. São os interesses que os guiam. Quando mudam os contextos, mudam os “amigos”. Mas não está nada disso no horizonte, pois não. É precisamente essa a minha insegurança. Queres dizer? Nem toda a gente, em todos os partidos das esquerdas está de acordo com esta associação. O resultado das eleições, ou o seu pressuposto, podem levar muitos a quererem reformular as coisas, a dar passos atrás. Além disso terão sempre a apoiá-los uma Europa que observa com desagrado um Governo, com apoio das esquerdas, a contrariar o seu plano de colonização ideológica dos povos europeus. Vê tu bem como mais nenhum país – nem a Espanha – conseguiu construir algo semelhante. A Europa já estava alertada, não permitiu mais nenhuma escorregadela. Não gostas muito da Europa! Pelo contrário, Sou Português e Europeu! Mas a Europa do Euro, de Maastricht e do Tratado de Lisboa, é a da dominação alemã e da finança, nada tem a ver com a Europa dos cidadãos. Esta Europa não quero, não me serve! O PS é um partido europeísta, não é? Sempre o foi. Essa é outra contradição a avolumar-se no caminho da Geringonça. O António Costa está pior que na canção. Tem três amores! É lá! Nem duvides. Divide-se entre a Europa e os seus desígnios, o Presidente da República e a Geringonça. Todas as noites tem de dormir em casa de um. Cá para mim isto só dura até que um deles comece a reivindicar mais tempo, mais afeto, mais permanência. Nesse caso? Haverá divórcio, pela certa. É isso que temes? É isso que vislumbro no futuro. É o Diabo! É o Diabo! Lá estás tu com passices! Não é coisa mística nem inevitável. É tão-somente questão de firmeza, bom senso, que ninguém queira ser mais papista que o papa. Não será fácil. Pois não! Mas vale a pena tentar!

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 23:59