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Inteligência, cultura, honestidade e ética
Pese embora o meu reconhecimento das qualidades da minha camarada Marisa e a certeza de que, em condições diferentes, estaria inteiramente do seu lado no prélio por qualquer lugar a que se candidatasse, desta vez não estarei com ela. Não porque discorde da sua candidatura e desejo que a mesma tenha uma excelente votação. Porém, nestas coisas da política é necessário, como diria Pessoa, por o coração de lado e deixar o pensar na cabeça.
É por tal que tomo, abertamente, a defesa da candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Vejamos o seu maior opositor, Marcelo Rebelo de Sousa. Sabemos que de há anos a esta parte se prepara para conquistar a Presidência da República. É um desejo legítimo e, depois de Cavaco, pode-se pensar que qualquer um tem maiores capacidades para essa alta função do que as que ele, por nossa infelicidade, demonstrou. Creio até que Marcelo não seria um presidente mau de todo. No entanto vem, quanto a mim, ferido de dois inconvenientes. O primeiro é ser, sem qualquer dúvida, um candidato de direita; o segundo é o da ambiguidade em que se envolve. O facto de ser candidato de direita, só por si, não é, numa democracia, facto impeditivo nem da candidatura, nem de um possível mandato correto. Mas, volto ao momento presente: o lugar é mais que o homem e este estará prisioneiro de apoios e dos interesses daquelas bandas. O que, para mim, conhecidas que são ações e conveniências, é inaceitável. Os quatro anos de governo Passos, os demasiados de Cavaco – como primeiro-ministro e presidente de uma República que sempre pareceu menorizar – devem levar-nos a por de lado a possível simpatia pelo comentador hábil e habitual e olhar mais para lá, para o campo ideológico e perceber como, estando no governo o PS, com o apoio do Bloco, do PCP, dos Verdes e, intermitentemente, do PAN, poderá um presidente de ligações opostas, com sentido de oportunidade, reconhecida habilidade política e de manipulação da opinião, criar zonas de fricção e rutura entre os partidos apoiantes do governo. Dirão que isto não passa de uma simples opinião e eu concedo. É porém a opinião de quem refletiu maduramente sobre estes assuntos e prefere não arriscar demasiado, tanto mais que o perigo é, por demasia, óbvio.
Por outro lado, a ambiguidade que cercará a campanha de Marcelo é notória e preocupante. Composto e em governação o executivo do PS, que fará Marcelo quando lhe for possível dissolver o Parlamento? Sabendo embora que ele se eximirá a responder a esta pergunta enquanto tal lhe for possível, avento duas hipóteses. Na primeira, sem demasiada clareza, dirá, mantenho o governo em funções enquanto demonstrar a sua sustentabilidade. Correto! Mas quem definirá essa capacidade? O Presidente, evidentemente e segundo os seus pessoalíssimos afetos. Lembremos também que o PSD de Passos, não o querendo ver nem pintado, ocorre hoje ao seu chamamento como tábua de salvação. Porque será? Que lhe irão solicitar, em troca do apoio, em primeiro lugar? Observem a frustração gritante e gritadora das bancadas da direita e logo ficarão a perceber para que caminhos tentarão conduzir a presidência. Nem é preciso ir ao astrólogo. Claro que não acredito que alguma vez, durante a campanha, Marcelo responderá a esta questão de peito aberto. Dissimulará, calará, evitará, invetivará, negará mas, mais tarde ou mais cedo, terá de ceder! Só não o pode reconhecer porque, para ganhar à primeira volta, necessita de votos para além dos da direita. Não lhe serão bastantes os trinta e tal por cento. Portanto, ver-se-á compelido a mentir ou, pelo menos a omitir.
Se pelo contrário ousasse dizer que manteria o Governo PS em atividade, o clamor e fuga da direita seriam imediatos e irreparáveis. Portanto, “malgré lui” Marcelo será obrigado a continuar o pântano de enganos em que executivo e presidência nos têm atolado.
Chego agora à minha opção. No título enuncio o que me leva a apoiar esta candidatura. Tenho saudades de ouvir um governante inteligente, de o ver tratar com conhecimento da história, das sociedades, das pessoas, as questões políticas e de governança; preciso de um banho de honestidade que me tire este mau cheiro em que tantas negociatas, enganos, declarações sem suporte e contrárias à realidade, vieram empestar o ambiente e, finalmente, porque é necessário que o prometido “não seja de vidro” – isto é, que se quebre com a maior das facilidades – seja respeitado, que a ética prevaleça sobre os interesses circundantes, de miserável mediocridade e que o juramento de defesa da Constituição seja feito por quem a respeite, não por aqueles que a traem em qualquer momento ou situação.
Finalmente quero um Presidente que venha a ser a medida da justiça e da ética nas relações políticas, económicas e sociais. Em suma, quero o candidato que me parece possuir, no maior grau, as qualidades apontadas. Quero o ar mais límpido e fluido no meu País. Em suma, quero Sampaio da Nóvoa como Presidente.