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E foi o primeiro dia do resto da sua vida

Sexta-feira, 22.11.13

 

 

Há pouco mais de dois anos, quando do nascimento deste desgraçado desgoverno de fedelhos e mentirosos, vaticinava-lhe, aqui, no Rostos, uma vida não superior a dois anos. O desgaste provocado por medidas dolorosas, ditas inevitáveis, rapidamente começou a corroer a credibilidade obtida, menos por mérito próprio, mais por banho lustral recebido com a desaparição de Sócrates e por promessas que haveriam de tornar-se o seu contrário. Ao findar o período de duração anunciada os comportamentos do CDS e a crise Portas pareciam dar-me razão. Falhei, porém! Uma mão oblíqua veio sustentar este governo. O Presidente da República, jurado defensor da Constituição, ao viés de ser o presidente de todos os portugueses, preferiu trair o juramento e o povo e pôr-se, total e partidariamente, ao lado dos inimigos da Constituição. Vergonha para ele, mandato indelevelmente marcado pelo opróbrio da história. Como o nosso povo diz, as ações ficam para quem as pratica.

 

Mas, agora, lá volto eu à adivinhação, parece-me ver fumo no horizonte. Por entre o descontentamento geral alguns factos vêm sobressaindo. O primeiro foi o corte de relações dos reitores das universidades com o ministro da Educação. Os fautores da elites a haver voltam-se contra as elites constituídas. Forte sinal de desagregação na área dos poderes. Depois, a velha raposa, o leão da política, o farejador de momentos charneira, volta à carga. Convoca os portugueses de todas as cores a juntarem-se numa frente comum contra os destruidores do país, contra os aliados das forças não eleitas, fascizantes, que dominam os fóruns políticos internacionais e, norteados pela camarilha financeira, causadora e beneficiária da crise, tentam desesperadamente abater o obstáculo que não lhes permite a completa escravização da nossa gente. Eles que tomaram, veementes e viris, em nome da honra nacional, a defesa intransigente de Ronaldo contra os disparates de Blatter, calam-se, permitem e se calhar instigam a tralha neoliberal a lançar ataques inadmissíveis contra a Constituição Portuguesa.

 

Se estes factos eram já por si importantes, ganham maior amplitude se somados ao ato simbólico, aos recados, enviados pelas forças de segurança ao governo. Não há poder sem força pública. Sem aqueles que, por bem ou por mal, são investidos do uso da violência legitimada. Ora esse apoio imprescindível ao governo veio ontem, ao subir as escadarias da Assembleia da República, dizer aos mandantes não contem connosco. Os que subiram disseram ainda, quando quisermos chegaremos até vocês; os que deixaram subir informaram que apenas oporiam resistência formal, pouco convicta, a quem quisesse galgar as escadas do poder. Um dia destes veremos os militares a dar o seu recado.

 

 

O governo perdeu a legitimidade. Mantém-se porque retém uma maioria de deputados, representantes de vontades que já não representam e porque um tíbio primeiro magistrado não quer, não sabe ou não pode exercer condignamente o seu magistério de defesa do bem superior da Nação, contra a proteção exorbitante a um punhado de beneficiados que pretendem tripudiar sobre os direitos de todos. Basta desta ”austera, apagada e vil tristeza”.

 

 

 Ontem foi 21 de novembro de 2013. Há fumo no horizonte. Tremem os alicerces do governo da ineficácia e da mentira. É bem possível que este seja “o primeiro dia do resto da sua vida”.

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 15:11