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Ena, pá! Tanto barulho

Quinta-feira, 26.09.13

 

Disse um dia um senhor, de seu nome Vladimir Ulitch Ulianov, mais conhecido por Lenine, que fazer a revolução socialista era relativamente fácil, o difícil seria mudar as mentalidades. Queria ele dizer, traduzindo a frase para conceitos mais atuais, ser penoso extirpar, mesmo em quem se pensa progressista, pensamentos e atitudes provenientes do inconsciente autoritário, intolerante, a resistir capcioso aos novos valores sociais. Perdoe-se-me se trago à colação tão ilustre personagem, utilizando, de cabeça e de maneira algo canhestra os seus ensinamentos. Faço-o porque, a propósito da minha crónica, publicada no Rostos, se levantou contra o autor e o Jornal um vendaval de impropérios e ataques a demonstrar cabalmente muita falta de cultura cívica, de noções urbanísticas, muitos desvios intencionais que nada tinham a ver com o motivo da crónica e, sobretudo, um lapso inaceitável de cidadania, incapacidade de perceção do escrito, interpretações canhestras e abusivas.

 

Relembremos: A partir de um acontecimento pessoal – as batidas no meu carro – passava-se para a análise das suas causas e traduzia-se, sumariamente, o estado de espírito de alguns – bastantes – moradores no bairro. Utilizava-se para tanto algumas frases proferidas no decorrer da conversa que, creio eu, é boa informação para os poderes públicos aquilatarem, ao vivo, sentimentos de que podem não se ter apercebido. É esse o valor da informação num estado democrático. Mais, apenas em ditadura é crime dizer que o rei vai nu quando, verdadeiramente, não tem peça de roupa sobre o corpo. Na opinião de alguns dos meus oponentes, bem expressa no teor de certos comentários, os quais recomendo que sejam lidos e meditados, eu deveria, ao ver a nudez do rei, desviar respeitosamente o olhar e, ceguinho de cobardia, gabar o bom gosto da vestimenta real. Ou, não o querendo fazer, seria melhor mudar de cidade. Nesta só haveria lugar para quem pensasse que ter respeito por qualquer instituição era comer e calar, como nos “bons velhos tempos”.

 

É preciso não ter medo das palavras nem dos sentimentos. Ódio, amor, respeito, tolerância, gosto, desgosto são reações emocionais às contingências da vida. Cada um tem o direito de exprimir o sentido em relação a pessoas e instituições. Se houver exagero, lá estará a justiça para repara os danos. Esta é a beleza da repartição de poderes. É também a espinha dorsal do viver democrático porquanto, é no escrutinamento e limitação das áreas de poder que se instala a cidadania e o verdadeiro respeito. Se eu for casado com uma senhora coxa e alguém, por mais inoportuno que seja, se referir a esse facto, não deve a paixão cegar-me e, contra toda a evidência, vir para a rua barafustar contra quem afirmou tal facto, considerando essa verdade insofismável uma falta de respeito. O verdadeiro respeito existe na continuada afirmação da verdade. Por isso, reafirmo, ao construir-se um parque desportivo em zona habitacional foi cometido um erro ao não serem criadas as infraestruturas adequadas à correta utilização do espaço público. Há aqui uma falta que ainda não foi reparada e que continuará a ser erro até que a mesma seja ultrapassada. Os responsáveis serão sempre o Clube e a Câmara, tenha lá ela a composição política que tiver, estenda-se o problema pelos mandatos que se estender. Não é ataque pessoal a ninguém, nem é falta de respeito por pessoas ou instituições.

 

Vivemos numa cidade, como refere o pintor Kira, com mais de setenta coletividades. Todas são respeitáveis, todas trazem, em variados campos, prestígio e riqueza ao Barreiro. Nenhuma é mais respeitável que outra. No entanto, força de clubites exageradas e intolerâncias espúrias, tenho ouvido muito bom Camarro defender a que lhe é mais querida e desfazer violentamente noutras. São opiniões, posições, certas ou erradas, mas com as quais temos de conviver. Não podemos considerar esses quereres e não quereres como desrespeito. Tem-se a liberdade de amar ou odiar quem se quiser, de preferência com bons motivos, muitas vezes sem eles, porque paixão é emoção vinda do irracional de nós. No entanto, precisamente porque reconhecemos isto, não poderemos deixar-nos dominar por elas. Temos de conseguir um juízo suficientemente distanciado para poder ver a trave no nosso olho. Só depois ganharemos o direito de criticar o argueiro no olho do vizinho.

 

 Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 09:17

Eu odeio o Barreirense

Segunda-feira, 23.09.13

 

 

 

Calma, nervosos adeptos do clube em causa. A epígrafe que encabeça esta crónica não representa necessariamente a opinião do autor. É, isso sim, um desabafo de vizinho, farto até aos olhos, dos problemas de trânsito e estacionamento causados pela afluência de gentes e viaturas aos campos de treinos das escolas de futebol da referida associação.

 

Não nutro especial simpatia pela tribo da bola. Mais negócio que desporto tem, por causa do espírito clânico e intransigência, servido sobretudo como dispositivo de alienação e sublimação de ódios e frustrações, em vez de escola de esperáveis e bons costumes. Os benefícios desportivos, se ainda os há, passam para segundo plano. O primeiro lugar é ocupado pela ambição de títulos e contratos, conseguidos seja como for, tornando-se a ética algo de excessivo e incómodo só atrapalhando o atingir dos objetivos. Nisto, infelizmente, não se distingue de outras instituições, entre elas uma vagamente apelidada de governo, cada vez mais valha couto de oportunismos e mentiras. Mas adiante!

 

Pois o desabafo em referência salta no meio de um lamento proferido por este vosso comunicante.  Dá-se o caso de ontem, domingo, ter saído em curta viagem. Deixei estacionado, à porta de casa o carro de utilização diária. Hoje, pela manhã, fui ao supermercado. Ao voltar com o carrinho da compras, quando ia abrir o porta bagagens reparei, no lado direito, sobre a roda traseira enorme esfoladura feita por, certamente outro carro de cor branca. Não, não vi o carro. O que vi foi a amolgadura profunda sobre a roda, o arrancar da pintura preta, substituída por vincos de alva tinta. Fiquei furioso! Primeiro porque neste carro já irei na terceira amolgadela feita, neste local, por alguém que quer estacionar o carro onde não cabe ou não sabe sair do sítio onde se meteu sem ser a toque, por ouvido. Certamente por falta de habilidade ou golpe de vista. Depois pela cobardia e caráter pulha de quem sabendo ter produzido um dano, não assume a sua responsabilidade e se pisga antes que alguém lhe possa anotar a matrícula. Dir-me-ão serem estes comportamentos individuais e nada ter o Barreirense a ver com o caso.

 

Não teria se, ao construir os campos de treino, tivesse, como devia e seria de esperar, acautelado o simples facto de, instalando-se em zona habitacional, ter reservado algum do espaço para construir os estacionamentos para os previsíveis afluxos de viaturas em dias de aulas ou competições. Desconheço se há lei que a tal obrigue mas, mesmo não havendo, o senso comum e o respeito pelos outros deveria tornar obrigatória tal precaução. Agrava-se mais o facto quando verificamos que o respeito que lhe faltou pela comunidade sobrou em proveito próprio. É que não se esqueceu de construir um parque interno de estacionamento… para os corpos diretivos. Isso mesmo anuncia impudicamente em enorme aviso colocado nos portões de entrada. Há aqui qualquer coisa de discriminatório e inaceitável que cheira muito mal.

 

Juntou-se à conversa mais um pequeno grupo de moradores, todos com problemas idênticos. Referiram que no dia em causa um qualquer evento causou enorme confusão, chegando mesmo, como infelizmente já vem sendo habitual, a altercações muito próximas de mais graves confrontos físicos. A qualquer já aconteceu o carro amolgado e o anonimato do amolgante. Alguém fez notar que a culpa não é somente do clube. Já teria informado vereadores, a câmara e que o assunto teria mesmo sido discutido, ou apresentado, na Assembleia Municipal. Resultado, zero! Conclusão, a Câmara teme meter-se com o Barreirense! A maior parte assumiu a conclusão. Desfazendo-se o grupo, a mesma pessoa que soltou a frase do título acrescentou, então para quê votar em quem não luta pelo bem-estar da população.

 

A propósito, não tendo sido eu a proferir as afirmações sobre o Barreirense e a Câmara, começo a perceber que não me estão a deixar indiferente.

 

 

Publicado in: Rostos On-line

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publicado por Carlos Alberto Correia às 15:02