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o que sei de abril em nós

Terça-feira, 24.04.12

 

           

I

 

não há razões perfeitas nem este é um mundo completo

desconheço amor onde o afecto igualmente se mantenha

nem sei de horários sempre desejáveis

 

o que sei é um saber de coisas por saber lançadas na minha                                                       

                                                       descoberta

 

por isso hoje em abril

com a arma das palavras e o sentido da cantiga

recordo o tempo em que esperava ver surgir esta nação

 

II

 

viemos expor-nos nas palavras e traçar o quadro do percurso

meteoritos descendo sobre a terra e produzindo rápida claridade

viemos de passagem falámos da viagem

 

nem todas as fontes iniciam rios mas todos os rios nascem de uma                                                            

                                                            fonte

importante é que deixem no seu rasto de águas renovadas

o caminho vegetal da alegria

 

assim em abril as coisas acontecem além das intenções e

pensar que é possível parar o movimento é como

tapar com panos pretos as janelas

para cortar o dia

 

que a revolução é sentimento de mudança

há muito arquitectada no coração das gentes

mais que um corpo é paixão

mais descoberta que sempre

 

quero dizer

fazer a revolução é diferente de criar uma liturgia

 

que em abril semente de actos novos em campos de imprevisto

não se admitem tréguas nem hipóteses

mas um corpo de mulher por sobre as ondas

para o qual as nossas vidas tendem

 

 

 

III

 

suponhamos que num acaso que nada deve ao acaso

se abriam nas janelas rasgos de verdades e deslumbrados

nos olhos surgia uma cidade que sendo a mesma outra transparecia

 

pensemos um dia em que por cima do sorriso

os homens prolongassem em festa a primavera que andava recolhida

e súbita rebentasse em seiva de flores

por sobre os aços

 

imaginemos o momento de tudo ser possível

mesmo a bandeira do vento no rubro da paixão

então

 

era uma vez um povo com um rio carregado de tristeza

era uma vez uma pátria de marinheiros e sem navios

que plantara uma praia inteirinha de viúvas com olhos de gaivotas

e coração de rocha

 

era uma vez um povo com a noite sobre a nuca

era uma vez um frio

 

IV

 

não há razões perfeitas nem este é um mundo completo

e estamos de passagem

só o povo flui constantemente se conserva e é diferente

nós somos uma parte da viagem

um porto a encontrar

 

juntos aqui em abril tentemos

o novo passo a dar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 00:33