Um euro por semana! Custa muito?
Nos últimos dias, em várias estações de televisão, tem-nos sido dado observar a fome e o desespero de milhares de portugueses privados de trabalho e quaisquer meios de subsistência, tendo de recorrer a instituições de caridade para garantir uma refeição, por dia, para si e para os seus filhos.
Dói ver a humilhação nos olhos de quem, tantas vezes e tantos anos, lutou para viver com independência e dignidade assistir ao derrocar, sem culpa própria, de todos os projetos e objetivos de vida próprios e dos seus descendentes. Apesar de tudo, como muitos dizem, nada mais lhes resta para se manterem vivos que a sopa pública.
Não sou adepto da caridade e sempre aceitei como bom o aforismo de mais valer ensinar a pescar que dar um peixe a quem tem fome. No entanto, que fazer quando não há já peixe no rio ou, por malvada sorte, nem mesmo o rio existe já?
Também tenho verificado a angústia espelhada e expressa nos rostos e vozes de quantos, responsáveis pela gestão de tais instituições, apontam para a exiguidade de recursos, o aumento exponencial de necessitados a acorrer aos seus bons ofícios e a pungente certeza de que, com muita brevidade, vão deixar de prestar o seu precioso auxílio, porque as verbas são escassas e começam a exaurir-se por tanta necessidade. E, caros amigos, como se diz, ainda a procissão vai na praça porque o próximo ano a calamidade se abaterá, sem dó nem piedade, sobre muito mais famílias mesmo, longe vá o agouro, de muitas que hoje, livres ainda da angustiada situação de carenciados, se verão, por inusitados acontecimentos, na posição dos que hoje já têm de recorrer às boas vontades alheias.
Confrangido com a realidade visível, amargurado pela impotência pessoal, revolvi a inventiva na busca de alguma solução, dentro das nossas possibilidades efetivas, que pudesse remediar estes dois males: o crescimento da necessidade e o decréscimo das possibilidades de ajuda. Ocorreu-me então a imagem da galinha que grão a grão enche o seu papo. Vi aí um possível remédio! Como? Perguntarão?
A resposta é ao mesmo tempo simples e complexa. Simples porque permitiria manter, durante a crise, o auxílio aos necessitados. Complexa porque necessitaria da coordenação de boas vontades e trabalho em rede de voluntários e instituições de beneficência. Em síntese imaginei que num belo exemplo de solidariedade cada português prescindisse, por semana, de um euro – um só eurito – e o entregasse (através de contas bancárias, recebimento porta a porta por voluntários, entrega direta em associações e quantas mais formas se inventassem ou encontrassem) às instituições que quisessem assumir, auxiliadas pelos voluntários, a responsabilidade de lançar e manter este movimento. Confiado na generosidade dos meus concidadãos tenho a certeza que o bago a bago poderia obstar a muitos futuros atos desesperados de imensa gente.
Vá lá, não custa nada. Mobilize-se e, com um euro por semana, permita que o sorriso, ainda que triste, de muitas crianças se mantenha até ao dia em que a dignidade de cada um possa voltar a ser reposta e que, cada um igualmente possa, num abraço fraterno, dizer a qualquer outro: Assim evitámos o pior.
Conto contigo e tu, conta comigo.
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt