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setembros I

Domingo, 04.09.11

I

 

recordo a melancolia dos beijos

suspensos entre o hálito de setembro

e um insuspeito golpe de outono

 

traduzo o lume brando dessas tardes

os ocasos fortuitos de langorosos sóis

no ruge-ruge de olhos marginais

 

no incómodo da pele traça a tua mão

arabescos de fogo sobre malvas

estáticas em tórridos areais

 

II

 

soltam-se as primeiras nuvens e os céus

ainda claramente juvenis caem na modorra

dos apressados hábitos

 

cinzento é acampamento de esperanças

no solitário corte dos umbrais

 

III

 

eu sei

não mais cantos de cigarra não mais

somente as ternas sensações pretéritas

remordem em remorsos outonais

 

eu sei

e por saber estou de qualquer modo

por demais afastado da acção

 

recordo os lumes velhos

e esmagando rumos ou trovejando camas

procuro no casulo a paz desta estação

 

dobo a luz afago a natureza

preparo o advento na minha fortaleza

de outros dias grandes e ferozes

onde termine a minha hibernação

 

IV

 

o vento largo e fresco amarinha

arrasta as coisas velhas pelo ar

setembro é chegado

a luz caminha

devagar

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publicado por Carlos Alberto Correia às 13:50