“Colossal irresponsabilidade”
Segunda-feira, 14.02.11
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Sento-me num desanimado desconforto. Não posso compactuar com a arrogância de um primeiro-ministro que recusa a um partido, por não ser do “arco governamental” – e aqui vejo a imagem de um retesado arco desferindo a flecha do poder no coração de quem quer que ouse expressar opiniões próprias distintas daquelas que lhe interessaria escutar – o direito de apresentar uma moção de censura, a qualquer tempo e do modo que lhe interesse, quando se sinta afrontado com os atos do poder, rotulando o exercício de tal direito como uma “colossal irresponsabilidade”.
É esta insolência que me dispõe mal e me leva a, contrariando a corrente principal, apoiar, embora com alguma relutância, a declaração de intenções do Bloco de Esquerda produzida no quadro parlamentar que lhe é próprio e no momento que os seus órgãos decisores consideraram apropriado. Admito que não lhe agrade a chamada à realidade, retirando-o do mundo onírico onde vive - ou pelo menos, que nos quer impor - mas não tolero a deriva elitista e autoritária que tal posicionamento pressupõe.
Embora, ao falar nestas coisas, me ocorram expressões como malhar em ferro frio e bater no ceguinho, não posso deixar de sentir a pressão dos muitos malefícios para o “nobre povo”, em que este governo tem sido pródigo, sempre apresentados como verdadeiros benefícios (do tipo o que arde é que cura) embora com efeitos positivos remetidos para prazo tão dilatado que tornam próximos os amanhãs que cantam. Já não há pachorra para o discurso triunfalista dos nossos governantes sempre a colidirem com o cada vez mais difícil dia a dia do Zé pagante. Para não esgotar a paciência dos nossos amigos deixem-me recordar apenas o aumento de lucro dos bancos com a concomitante descida da percentagem e volume de impostos pagos, contrastando com o facilitar e embaratecimento dos despedimentos. Claro, tudo em nome de aumento do nível de emprego e do bem do povo. Está-se mesmo a ver e, como se diz em “eseemeessês”: Lol!
Declaro com toda a modéstia possível que se tivesse de decidir pelo Bloco, não apresentaria tal moção neste momento. Penso mesmo que esta declaração foi apressada e não terão sido bem ponderados os efeitos subsequentes. É uma opinião pessoal e não envolve nenhuma quebra de solidariedade com o projeto político do Bloco. Considero também ter a moção algumas virtualidades sistematicamente ignoradas. A primeira é a de quebrar a pacatez do charco onde as medidas económico-políticas se vão desenrolando. Alguém terá de fazer soar o alarme e informar os senhores do poder que mesmo podendo não ter forças suficientes para obstar à consumação das iniquidades que sofremos, não nos deixamos enrolar nos rodriguinhos do discurso oficial e estamos e estaremos sempre prontos para o denunciar, confrontando-o simplesmente com a realidade. A segunda é obrigar os partidos da direita, untuosos opositores das medidas do governo - não porque não lhes agradem mas sim porque não as consideram suficientemente profundas e rápidas - a saírem da posição de sagrada hipocrisia onde medram e a terem de, à luz do dia e de cara descoberta, ao votarem a moção, demonstrar, sem rebuços, de que lado estão e qual é a verdadeira face das suas políticas. Como isto não agrada a ninguém, do PS para a direita, desconfio que haverá algo de positivo a nascer desta ação.
Aos fáceis acusadores de possíveis ineficácias, ou irresponsabilidades, desta causa, advirto para que não se peça, a quem tem uma fisga, que dispare um canhão. Será de maior justiça e inteligência verificar se a fisgada atingiu ou não o alvo. Pelas reações apaixonadas parece que, apesar de tudo, David contínua a acertar em Golias. Pelo menos no sentido em que Manuel Alegre (em quem não votei) diz: “Eu vim para incomodar”!
Isto, no momento que corre, é já em si, bastante!
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt
Sento-me num desanimado desconforto. Não posso compactuar com a arrogância de um primeiro-ministro que recusa a um partido, por não ser do “arco governamental” – e aqui vejo a imagem de um retesado arco desferindo a flecha do poder no coração de quem quer que ouse expressar opiniões próprias distintas daquelas que lhe interessaria escutar – o direito de apresentar uma moção de censura, a qualquer tempo e do modo que lhe interesse, quando se sinta afrontado com os atos do poder, rotulando o exercício de tal direito como uma “colossal irresponsabilidade”.
É esta insolência que me dispõe mal e me leva a, contrariando a corrente principal, apoiar, embora com alguma relutância, a declaração de intenções do Bloco de Esquerda produzida no quadro parlamentar que lhe é próprio e no momento que os seus órgãos decisores consideraram apropriado. Admito que não lhe agrade a chamada à realidade, retirando-o do mundo onírico onde vive - ou pelo menos, que nos quer impor - mas não tolero a deriva elitista e autoritária que tal posicionamento pressupõe.
Embora, ao falar nestas coisas, me ocorram expressões como malhar em ferro frio e bater no ceguinho, não posso deixar de sentir a pressão dos muitos malefícios para o “nobre povo”, em que este governo tem sido pródigo, sempre apresentados como verdadeiros benefícios (do tipo o que arde é que cura) embora com efeitos positivos remetidos para prazo tão dilatado que tornam próximos os amanhãs que cantam. Já não há pachorra para o discurso triunfalista dos nossos governantes sempre a colidirem com o cada vez mais difícil dia a dia do Zé pagante. Para não esgotar a paciência dos nossos amigos deixem-me recordar apenas o aumento de lucro dos bancos com a concomitante descida da percentagem e volume de impostos pagos, contrastando com o facilitar e embaratecimento dos despedimentos. Claro, tudo em nome de aumento do nível de emprego e do bem do povo. Está-se mesmo a ver e, como se diz em “eseemeessês”: Lol!
Declaro com toda a modéstia possível que se tivesse de decidir pelo Bloco, não apresentaria tal moção neste momento. Penso mesmo que esta declaração foi apressada e não terão sido bem ponderados os efeitos subsequentes. É uma opinião pessoal e não envolve nenhuma quebra de solidariedade com o projeto político do Bloco. Considero também ter a moção algumas virtualidades sistematicamente ignoradas. A primeira é a de quebrar a pacatez do charco onde as medidas económico-políticas se vão desenrolando. Alguém terá de fazer soar o alarme e informar os senhores do poder que mesmo podendo não ter forças suficientes para obstar à consumação das iniquidades que sofremos, não nos deixamos enrolar nos rodriguinhos do discurso oficial e estamos e estaremos sempre prontos para o denunciar, confrontando-o simplesmente com a realidade. A segunda é obrigar os partidos da direita, untuosos opositores das medidas do governo - não porque não lhes agradem mas sim porque não as consideram suficientemente profundas e rápidas - a saírem da posição de sagrada hipocrisia onde medram e a terem de, à luz do dia e de cara descoberta, ao votarem a moção, demonstrar, sem rebuços, de que lado estão e qual é a verdadeira face das suas políticas. Como isto não agrada a ninguém, do PS para a direita, desconfio que haverá algo de positivo a nascer desta ação.
Aos fáceis acusadores de possíveis ineficácias, ou irresponsabilidades, desta causa, advirto para que não se peça, a quem tem uma fisga, que dispare um canhão. Será de maior justiça e inteligência verificar se a fisgada atingiu ou não o alvo. Pelas reações apaixonadas parece que, apesar de tudo, David contínua a acertar em Golias. Pelo menos no sentido em que Manuel Alegre (em quem não votei) diz: “Eu vim para incomodar”!
Isto, no momento que corre, é já em si, bastante!
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt