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Nem todos os concerto para uma voz são para esquecer

Terça-feira, 25.01.11

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publicado por Carlos Alberto Correia às 00:29

Cinzas

Quarta-feira, 19.01.11
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Talvez porque eu, como muitos da minha geração, tive na guerra colonial contactos próximos com a morte, apreendendo, portanto, com urgência, a fragilidade e a beleza da vida, sou, intrinsecamente, contra qualquer pena de morte induzida por pessoa individual ou coletiva.

Apresentado este princípio norteador do meu viver posso então entrar na matéria que, por incómodo próprio, decidi tratar. Vou talvez ferir suscetibilidades e vou, sobretudo, opor-me ao suave modo português de tudo perdoar a quem se finou. Falo, como já poderão ter-se apercebido do assassínio do cronista social Carlos Castro.

Nunca o conheci pessoalmente mas já tanto não digo da sua sombra civil. Era o homem da maledicência e dos escândalos que, a seu critério, distribuía pelas revistas e colunas cor-de-rosa, lançando gentes em breve fogachos de notoriedade e humilhando aqueles que não lhe interessavam ou não seguiam os códigos cediços do pobre “jet-set” onde turbilhonava. Era, para mim, um ser execrável. Depois de morto, nada disto tendo mudado, continuou a sê-lo. Que não mereceria a morte que o segou? Plenamente de acordo. Mas não exclusivamente por ele, tão só porque ninguém merece a ceifa da sua vida antes que ela tenha naturalmente termo ou que o cidadão, por ponderosos motivos, o decida para si próprio.

Por ter esta ideia da pessoa em causa e por saber que havia multidões que pensavam o mesmo, surpreendeu-me que, num repente, aparecessem milhares de amigos a debitarem virtudes e saudades, mesmo em gente que, eu sabia, por ele nutria senão ódio, pelo menos um requintado desprezo. Sendo embora a rasoira da morte a aplanar saliências de passadas ofensas, espantou-me o rio de hipocrisia que vi desaguar nos nossos meios de comunicação. Parecia que um novo Camões ou Pessoa se tinha finado. Só faltou uma alocução ou presença funerária do primeiro magistrado da nação. Não venham acusar-me, por esta posição, de homofobia ou coisa que o valha. Não sofro de tal pecado e, tenho dado testemunho bastante do meu respeito pelos sentimentos dos seres humanos expressem-se eles lá como se expressarem. Só lhes peço autenticidade.

Portanto, Carlos Castro foi assassinado, foi vítima de um ato de extrema violência e nenhum motivo poderá justificar esta ação. Quem o matou foi Renato Seabra, um jovem manequim temporariamente residente com a vítima no quarto de um hotel nova-iorquino. Em redor do algoz levantou-se um coro de solidariedade inabitual. Talvez pela sua juventude, pela beleza, pelos sonhos caídos a partir do instante do crime. Sugerem-se motivos. Declaram-se causas. Procuram-se desculpas. Mas poderá haver defesa para um ato tão definitivo como o de causar a morte a alguém? Poderá, sim, haver atenuantes mas nunca justificação plena. Todos somos capazes de cometer assassínio mas, no seu evitamento, está a diferença entre barbárie e civilização. Renato matou, é, ao que parece, uma certeza. A vida que sonhava deixou de ser possível. De certo modo ao assassinar assassinou-se senão a ele próprio, pelo menos ao seu devir. É tão lamentável esta situação como a da morte da vítima. Parece-me, portanto que neste caso não haverá inocentes mas todos serão, ao mesmo tempo, algozes e vítimas. Renato tinha um sonho e, provavelmente, decidiu utilizar pessoas como meio de o atingir. Pessoas essas que também decidiram utilizar Renato para os seus fins. É o círculo de enganos da fama fácil e das alienações consentidas para lá chegar. É não saber que o primeiro dia de glória é igualmente o primeiro dia de deceção e apagamento. Mas esta é a nossa sociedade. Aquela em que vivemos e consentimos. A que destrói valores de humanidade, dignidade, solidariedade, em troca da ilusão de uns quantos dias de ribalta. Custe lá isso o que custar. O sucesso a qualquer custo é o objetivo. Tudo o mais é secundário. Ou pelo menos assim parece. O problema está no preço a pagar. Há sempre um dia em que a fatura nos é enviada. Nesse dia há que pagar o preço. Para o jovem assassino a fatura chegou talvez demasiado cedo e a despropósito. Reagiu e, aprendiz de feiticeiro, queimou-se no próprio feitiço. Até onde ainda não sabemos.

Indiferentes a leis, respeito pelos outros ou qualquer outra conveniência, as irmãs e alguns amigos de Carlos Castro, numa explosão de egoísmo e desprezo absoluto, decidiram despejar num dos respiradouros do metro de Nova York, parte das cinzas do malogrado cronista. Neste ato está expresso tudo quanto me parece ser os valores dessa gente. Não se sabe porque divino decreto eles não têm de obedecer às regras que jungem o comum dos mortais. Não senhor, isso não é para eles. Se o amigo, o irmão decidiu dar-se a respirar aos cidadãos de qualquer urbe, que direito têm estes de se oporem a tão profundo desígnio? Será que não se apercebem do tremendo favor que lhe é concedido ao incorporarem as cinzas do grande homem que, por azar, não conhecem nem reconhecem? E isso que tem? Os mandantes da vontade do morto têm opinião bastante para eles e para os outros. Estes nem precisam de se incomodar com coisas tão cansativas como ter vontade própria. Cá estão tais amigos para de tanto trabalho os aliviarem. Deviam ainda era agradecer.

Perante tanta pesporrência só resta, pregando no deserto, dizer que se deixe de olhar para o acessório e se parta de vez na conquista do essencial. A fama, os holofotes, o breve reconhecimento são cinzas deitadas sobre o mar. Nem memórias deixam que se vejam. Só lutos espalhados no vento da pouca duração.


Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

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publicado por Carlos Alberto Correia às 23:01

Porque o voto é secreto

Sexta-feira, 14.01.11
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Porque o voto é secreto não vou dizer que já escolhi, na pessoa do candidato José Manuel Coelho, o recipiente do meu voto. Claro que não é um candidato ganhador, nem como tal ele se assume. Fala porém chamando os nomes às coisas, sem medo nem rebuço. Ora aqui está um político que é, com eficiência, um antipolítico. Não utiliza o exercício de distanciação e ocultamento do inefável Sr. Silva; não tergiversa como Alegre; não se mostra bonzinho e compassivo como Nobre e não tem o encargo de manter os militantes agrupados como Lopes. Tem apenas de ser ele e, como tal, propor-se ao escrutínio. Nos tempos que correm já é bastante.

Mostrando de si uma face pícara nas arruaças com o jardinismo, oculta um saber e experiência da coisa pública que tem vindo a revelar, pouco a pouco, nos tempos de antena e entrevistas que o estão a tornar um caso de rápido reconhecimento. Para ele o trabalho político é resistência. É velar para que a separação dos poderes seja uma realidade e não algo que se proclama no âmbito dos princípios e se esquece na prática dos dias. É reconhecer que a situações diferentes se aplicam estratégias diferenciadas. É afirmar que um operário da construção civil pode ter conhecimentos e aplicá-los a bem da população. É não temer o confronto com os golias das várias governações e afirmar os direitos de David apesar das desproporções que parecem, obviamente, condenar ao insucesso qualquer veleidade de resistência.

Nele repousa a prova iniludível da possibilidade de resistir nos mais difíceis terrenos. Nem mesmo os dislates do Sr. Alberto João o têm amedrontado. Nem os processos judiciais, sempre a bater nos mesmos, o levam a arrepiar o caminho traçado. Sabe o que quer, é inteligente e capaz. Será perfeito? Certamente que não! A Democracia não necessita de anjos mas de homens. De homens capazes de dizer quando o rei vai nu e não de cortesãos cegos por subserviência.

É populista e perigoso? Talvez um não sei quanto, concedo. Mas é muitos menos que aqueles que, sem coragem para ser o que realmente são e na falta de outros argumentos, o acusam de tal. Não o levam a sério? Fazem muito mal. Ele não é o “clown” que, para aparecer, simulou ser. É alguém que sabe como iludir o cerco que as burocracias partidárias fizeram à Democracia. É o gosto do risco e da descoberta. Vale a pena estar com este voto minoritário mas de grande valor simbólico. Descubra-se de novo a capacidade de rir dos poderosos que nada temem senão o ridículo. E como ele, com palavras e atos, o põe tão claramente a descoberto. Depois das eleições, conforme o seu resultado, os paxás vão tentar integrá-lo ou desintegrá-lo. Que ele tenha força e saber para continuar a resistir no contrapoder a que se propôs e não deixe por mãos alheias o zurzimento dessas personalidades cinzentas convencidas que são a luz do mundo. Necessário é que sempre surja um profeta, mesmo que só anuncie desgraças, para manter ativas as mentes dos cidadãos. Por agora ele decidiu de livre vontade assumir esse papel. Por isso estou com ele e lhe entregarei, embora vocês o não saibam, a confiança do meu voto. Não para que seja presidente da República mas para que no coro das unanimidades, pretensamente diferenciadas, surja uma nota desafinada a desafiar a interpretação de mais profundos significados.

Agradeço-te José Manuel Coelho o atestado de sanidade com que presenteias este povo. O qual, tu sabe-lo bem, não poderá ainda compreender-te.


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publicado por Carlos Alberto Correia às 14:27

O “Arrelia”

Quarta-feira, 05.01.11
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Sinto-me vazio. Estou desinteressado! Não me apetece ouvir debates nem declarações de presidenciáveis. Vai por aqui um tempo que não é morno por demais ter arrefecido nas fraquérrimas prestações desta democracia de pacotilha onde é sempre possível entalar mais o povo e se encontram, permanentemente, boas justificações para que, os mesmos de sempre, continuem a enriquecer e a viver, cada vez mais, num Olimpo a que só eles podem aceder.

Perante isto e não só, o Presidente da República é uma irrelevância. Não existe! Formatado como pura insignificância no fascismo, foi confirmado nesse estatuto pela democracia. O seu poder é quase nulo. Vale o que valer o homem que ocupa o lugar. É uma daquelas situações onde é o homem que faz o posto. É uma anti-instituição.

Houve um tempo em que lhe era destinado o fatigante trabalho de cortar fitas e beijocar criancinhas. A democracia esvaziou-lhe a função. Hoje até o presidente da junta inaugura e beijoca. Perdeu o cargo sentido mas mantém-se o ritual por mais vazio e inócuo que seja. O seu poder é o de não ter poderes. Vive do discurso mesmo quando cala. Mas se não fala não vive. Feroz contradição que o faz silenciar quando devia falar e discursar em tempo de contenção de voz. Se andam a cortar nas despesas porque não cortam de vez esta despesa supérflua? Ah! Pois, e onde iriam por os políticos de nomeada em fim de carreira? Não há Administrações de grandes empresas que cheguem para todos. Há que manter alguns, mesmo que a encanar a perna à rã, no aparelho de Estado. Sempre hão de servir para alguma coisa. Quando não mais para dar credibilidade ao discurso hipócrita dos que, mamando, acusam os que vivem no limite da pobreza de viverem acima das suas possibilidades. É aceitável um discurso, vagamente crítico e sem eficácia executiva, que pareça contrariar as mais dolorosas decisões. Para as quais é precisa a coragem de as aplicar apenas aos outros, ficando, sempre de fora, os nossos. Chama-se a isto equidade governativa.

Os nossos presidentes só têm existência na medida em que forem do contra. Dizem que é para maior equilíbrio da coisa pública. Mas que equilíbrio se consegue quando num prato da balança está todo o poder da governança e no outro o hidrogénio de um balão inflado? Pode dissolver a Assembleia! Pode, claro que pode! E depois? Ou faz eleições ou nomeia. De qualquer modo as suas maiores possibilidades são as de se ter tramado e, ao mesmo tempo, não ter resolvido coisa nenhuma. Se vai a eleições e ganham os mesmos enfraquece e terá de demitir-se. Se ganha quem ele espera não só perde a relevância – porque não esqueçam o seu verdadeiro poder é o de contradizer, o de arreliar – e fica indissoluvelmente ligado aos inêxitos do governo que (por eleições ou nomeação) patrocinou. Se o governo cambalhotar lá vai o Presidente de empurrão! Inequívoca beleza da inutilidade!

Apesar de tudo, todos os cinco anos, meia dúzia de circunspectos cidadãos afrontam-se intrépidos nas arenas e desfilam intenções e programas que nem lhes pertencem e bem sabem não poder cumprir. O que os faz exporem-se assim? Problema de habitação resolvido por dez anos? Doce passagem do tempo de congelamento da reforma? Vaidadezinha inconsútil a espreitar sem vergonha do âmago da proclamada modéstia? Saudades de um rei, ainda absoluto, fazendo herdeiros e cortesãos duma mesma penada? Oh, vã glória de mandar, oh, vã cobiça… !

Andam por aí, agora, de novo, a tal meia dúzia de citadinos a mercadejar votos. Para não fazerem o que prometem, prometendo o que não podem. Querem a nossa confiança e digladiam-se galhardamente por ela. Até o voto entrar na urna, porque depois… Cinco são-me indiferentes e para um sou absolutamente contra. Quem adivinha quem é o Acácio tartamudo que detesto?

Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

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publicado por Carlos Alberto Correia às 19:43