Como se fora uma carta ao Director
Sexta-feira, 18.06.10
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Quiseste, Director, dar-me um valor, ou uma preponderância, que não possuo e, na Carreira 7, Horário 14,06, presenteaste-me com o imerecido prémio de uma local noticiando a minha renúncia à Concelhia do Barreiro do Bloco de Esquerda, por discordar do apoio à candidatura de Manuel Alegre e informando que o meu casto voto seria entregue ao Dr. Fernando Nobre.
Agradeço a importância que consignaste a este gesto, confirmo a tua notícia, sendo no entanto imperioso que esclareça que a minha posição, para as presidenciais, não é tão definitiva como pode transparecer da notícia.
Em 22 de Fevereiro publicaste a minha crónica “Baralhar e dar de novo” onde tentava analisar as três possíveis candidaturas à Presidência da República. Nela, em resumo, apresentava a possibilidade de Cavaco Silva voltar a ser reeleito, a desilusão causada pelo actual posicionamento de Manuel Alegre e o sopro de esperança que, presumia, viesse a ser a candidatura independente de Fernando Nobre. Salientava também que no xadrez político a situação de Alegre se alterara e era, agora, semelhante à de Mário Soares nas eleições anteriores. Presumia, ainda, que o capital de esperança poderia vir do Presidente da AMI. Os tempos deram-me, em parte, razão.
Posteriormente em 12 de Maio, em “Crise, Papa e Fernando Nobre”, igualmente publicada no Rostos, mostrava a minha angústia e desilusão por alguns posicionamentos de Fernando Nobre, pondo, se bem te lembras, o meu voto no mercado, em jeito de leilão, para ser entregue a quem por ele fizesse licitação maior. Até agora ninguém ofereceu nada, o que demonstra bem o valor da minha vontade.
Postas esta questões de principio voltemos à razão desta crónica. O meu desacordo com o Bloco de Esquerda é apenas conjuntural e em duas questões: candidato presidencial e Terceira Travessia. No resto, continuo indefectível apoiante e pronto para dar do meu esforço na parte possível e necessária. Esclareço também que, pelo facto de não apoiar a linha oficial nada de extraordinário me aconteceu no partido. Não só temos o direito de tendência, o exercemos e não somos perseguidos por isso, como sermos aderentes deste partido não exige de nós qualquer acefalia seguidista. Ao entregar a minha militância não entrego, conjuntamente, a inteligência e a capacidade crítica. Antes pelo contrário a minha crítica torna-se mais efectiva ao ser discutida e amplificada nas estruturas partidárias. Por isso, dentro da coerência exigida a quem quer ser sujeito das suas posições e destino, considerei, embora nada a isso me obrigasse, que seria correcto deixar o lugar que ocupava na estrutura partidária. Assim, renunciei, livremente, ao cargo, de tal não ficando com arrependimento pessoal nem com distanciação ao Partido e Camaradas.
Já no que a Fernando Nobre respeita, a local não levou em atenção a matéria desta última crónica.
Ao longo do tempo fui detectando, em discursos e posições do candidato, algumas debilidades, uma ou outra ingenuidade, certa inconsistência e o chegar de companhias pouco recomendáveis. Não acreditando que, por toda a sua história de vida, seja o Dr. Fernando Nobre alguém que se deixe instrumentalizar facilmente, a verdade é que à sua volta, procurando influenciar as suas flexões, adejam aves nocturnas com o ínvio propósito de apenas coarctarem as possibilidades de eleição de Manuel Alegre. Ora, não votando em Alegre, não me agrada fazer parte de vinganças pessoais de gente rancorosa, para quem a amizade deixa de fazer sentido sempre que qualquer divergência se opõe à vontade sacrossanta do patriarca.
Entretanto os tempos exigem-nos maior reflexão e grande cautela nas escolhas a fazer. Os posicionamentos de Passos Coelho – enquanto previsível futuro primeiro-ministro - se potenciados por um Presidente de similar ideologia, podem fazer perder, em pouco tempo, o que levou décadas a construir. Não tenham dúvidas de que um poder assim constituído se sentirá livre para atacar todos os direitos dos trabalhadores. Tudo o que até aqui era discursos de valorização da pessoa no trabalho, volver-se-á em prelecção sobre os custos de mão-de-obra e a necessidade de liberalizar despedimentos. Será exigido o livre arbítrio do capital sobre o trabalho, conduzindo à moderna escravatura das massas populares. Vejam bem que ainda lá não chegaram e já, com a cobertura da crise, procuram ganhar mais terreno, retirando-o às conquistas dos trabalhadores, demonstrando claramente que a luta de classes nunca terminou. Apenas, em democracia e em alta económica, se mascara e, dissimulada, esconde-se até à próxima crise que a especulação capitalista venha a provocar e queira que as vítimas, mais uma vez, paguem.
Estando tudo isto em jogo no nosso País, vejo-me numa angustiante dúvida sobre o que fazer. Neste momento apenas sei o que não quero. Não descortinei ainda aquilo que devo fazer.
Quem me ajuda a esclarecer estas dúvidas?
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt
Quiseste, Director, dar-me um valor, ou uma preponderância, que não possuo e, na Carreira 7, Horário 14,06, presenteaste-me com o imerecido prémio de uma local noticiando a minha renúncia à Concelhia do Barreiro do Bloco de Esquerda, por discordar do apoio à candidatura de Manuel Alegre e informando que o meu casto voto seria entregue ao Dr. Fernando Nobre.
Agradeço a importância que consignaste a este gesto, confirmo a tua notícia, sendo no entanto imperioso que esclareça que a minha posição, para as presidenciais, não é tão definitiva como pode transparecer da notícia.
Em 22 de Fevereiro publicaste a minha crónica “Baralhar e dar de novo” onde tentava analisar as três possíveis candidaturas à Presidência da República. Nela, em resumo, apresentava a possibilidade de Cavaco Silva voltar a ser reeleito, a desilusão causada pelo actual posicionamento de Manuel Alegre e o sopro de esperança que, presumia, viesse a ser a candidatura independente de Fernando Nobre. Salientava também que no xadrez político a situação de Alegre se alterara e era, agora, semelhante à de Mário Soares nas eleições anteriores. Presumia, ainda, que o capital de esperança poderia vir do Presidente da AMI. Os tempos deram-me, em parte, razão.
Posteriormente em 12 de Maio, em “Crise, Papa e Fernando Nobre”, igualmente publicada no Rostos, mostrava a minha angústia e desilusão por alguns posicionamentos de Fernando Nobre, pondo, se bem te lembras, o meu voto no mercado, em jeito de leilão, para ser entregue a quem por ele fizesse licitação maior. Até agora ninguém ofereceu nada, o que demonstra bem o valor da minha vontade.
Postas esta questões de principio voltemos à razão desta crónica. O meu desacordo com o Bloco de Esquerda é apenas conjuntural e em duas questões: candidato presidencial e Terceira Travessia. No resto, continuo indefectível apoiante e pronto para dar do meu esforço na parte possível e necessária. Esclareço também que, pelo facto de não apoiar a linha oficial nada de extraordinário me aconteceu no partido. Não só temos o direito de tendência, o exercemos e não somos perseguidos por isso, como sermos aderentes deste partido não exige de nós qualquer acefalia seguidista. Ao entregar a minha militância não entrego, conjuntamente, a inteligência e a capacidade crítica. Antes pelo contrário a minha crítica torna-se mais efectiva ao ser discutida e amplificada nas estruturas partidárias. Por isso, dentro da coerência exigida a quem quer ser sujeito das suas posições e destino, considerei, embora nada a isso me obrigasse, que seria correcto deixar o lugar que ocupava na estrutura partidária. Assim, renunciei, livremente, ao cargo, de tal não ficando com arrependimento pessoal nem com distanciação ao Partido e Camaradas.
Já no que a Fernando Nobre respeita, a local não levou em atenção a matéria desta última crónica.
Ao longo do tempo fui detectando, em discursos e posições do candidato, algumas debilidades, uma ou outra ingenuidade, certa inconsistência e o chegar de companhias pouco recomendáveis. Não acreditando que, por toda a sua história de vida, seja o Dr. Fernando Nobre alguém que se deixe instrumentalizar facilmente, a verdade é que à sua volta, procurando influenciar as suas flexões, adejam aves nocturnas com o ínvio propósito de apenas coarctarem as possibilidades de eleição de Manuel Alegre. Ora, não votando em Alegre, não me agrada fazer parte de vinganças pessoais de gente rancorosa, para quem a amizade deixa de fazer sentido sempre que qualquer divergência se opõe à vontade sacrossanta do patriarca.
Entretanto os tempos exigem-nos maior reflexão e grande cautela nas escolhas a fazer. Os posicionamentos de Passos Coelho – enquanto previsível futuro primeiro-ministro - se potenciados por um Presidente de similar ideologia, podem fazer perder, em pouco tempo, o que levou décadas a construir. Não tenham dúvidas de que um poder assim constituído se sentirá livre para atacar todos os direitos dos trabalhadores. Tudo o que até aqui era discursos de valorização da pessoa no trabalho, volver-se-á em prelecção sobre os custos de mão-de-obra e a necessidade de liberalizar despedimentos. Será exigido o livre arbítrio do capital sobre o trabalho, conduzindo à moderna escravatura das massas populares. Vejam bem que ainda lá não chegaram e já, com a cobertura da crise, procuram ganhar mais terreno, retirando-o às conquistas dos trabalhadores, demonstrando claramente que a luta de classes nunca terminou. Apenas, em democracia e em alta económica, se mascara e, dissimulada, esconde-se até à próxima crise que a especulação capitalista venha a provocar e queira que as vítimas, mais uma vez, paguem.
Estando tudo isto em jogo no nosso País, vejo-me numa angustiante dúvida sobre o que fazer. Neste momento apenas sei o que não quero. Não descortinei ainda aquilo que devo fazer.
Quem me ajuda a esclarecer estas dúvidas?
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"Le Premier Bonheur du Jour" - Françoise Hardy
Quarta-feira, 16.06.10
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memórias XXII - às vezes
Terça-feira, 08.06.10
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I
era uma vez um barco
uma memória de fumo
uma criança no tempo
do vidro das tuas portas
navegando no teu rosto
volto ao local da esperança
onde o cais não foi marcado
aí dissimulo a luz
entre os lábios alinhados
II
quando o corpo nasce dia
sempre inocente o domingo
vem bater à minha porta
a gargalhar profecias
junto o fumo da memória
volto ao local da esperança
com um silêncio de voz
um barco livre de Outono
que dissimulo no cais
III
na linguagem a que se acolhe
só se cria o que não há
não é escritor quem se escolhe
nem o que dita a razão
mas se houver uma canção
conta-se às vezes no tempo
a memória do teu fumo
no corpo da minha porta
nos meus lábios alinhados
só ao domingo
cansado
I
era uma vez um barco
uma memória de fumo
uma criança no tempo
do vidro das tuas portas
navegando no teu rosto
volto ao local da esperança
onde o cais não foi marcado
aí dissimulo a luz
entre os lábios alinhados
II
quando o corpo nasce dia
sempre inocente o domingo
vem bater à minha porta
a gargalhar profecias
junto o fumo da memória
volto ao local da esperança
com um silêncio de voz
um barco livre de Outono
que dissimulo no cais
III
na linguagem a que se acolhe
só se cria o que não há
não é escritor quem se escolhe
nem o que dita a razão
mas se houver uma canção
conta-se às vezes no tempo
a memória do teu fumo
no corpo da minha porta
nos meus lábios alinhados
só ao domingo
cansado
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RIM e Coração
Quarta-feira, 02.06.10
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Estejam os meus amigos descansados que só por angustiado humor o título remete para a possibilidade de um fastidioso escrito sobre a anatomia do indígena. Na verdade RIM não é mais que o acrónimo de Recessão, Insensibilidade e Miséria, (fotograma impressionante do estado a que este desgoverno conduziu o País) e coração metaforiza o meu desconforto pelo recente ataque de Israel a barcos civis, em águas internacionais.
1 - RIM
Todos sabemos como os nossos governantes, de há muito, criaram um país virtual apenas existente nos seus privilegiados bestuntos. Nenhum de nós, com excepção dos apaniguados que sempre vêm apenas aquilo que lhes mandam ou convém ver, conseguiu, alguma vez, descortinar as excelências de um poder centrado no desvirtuamento da verdade, no desprezo pela palavra dada ou programa estabelecido, nos volte-faces, tão rápidos, e constantes que metade do país se constipou por causa da deslocação de ar causada por essas ventoinhas.
Depois de em maioria absoluta utilizar a crise geral para camuflar uma outra anterior e estrutural da nossa economia, servindo tais ardis para nada fazer, eis-nos lançados no mais desesperado PEC, com vista a resolver os grandes problemas da dívida externa, do crescimento económico e da percentagem do PIB. As medidas adoptadas, resultantes da visão de uma Europa ainda refém de decisores neoliberais e exigidas por estes com um forte puxão de orelhas a este transviado governo - com algumas veleidades Keynesianas - veio “felizmente” por as coisas no eixo. Esmaga-se mais aqueles que pouco têm, faz-se vista grossa a quem muito possui e pouco paga para o esforço geral da Nação e ala que se faz tarde. Num país em que o desemprego continua a galgar dígitos retiram-se os apoios considerados “indispensáveis” quando o número de desempregados era menor. Atira-se às cegas com o aumento do IVA quando propalam, aos setes ventos, querer aumentar as exportações; taxam-se os salários e reformas, em sede de IRS, e ficam de fora as mais-valias bolsistas, o lucro dos bancos, criando-se a ficção de que as empresas com proventos acima de um certo nível, sofrerão uma sobretaxa. É para rir ou é areia para os olhos? Não se está mesmo a ver que mesmo a maior parte da dúzia e meia de empresas que acedem a tais ganhos vão, subitamente, fazer obras, pagar dívidas no estrangeiro, etc… etc…, que não lhe permitirão manter essa margem de lucros? E se essas empresas fossem taxadas sobre o volume de negócios? Bem, isto sou eu a sugerir sabendo-se que de finanças sou como Jesus Cristo. É apenas uma ingenuidade…
Na verdade, o que as medidas tomadas recortam – quem o diz são economistas com provas dadas - é a continuidade de um ciclo imparável de cortes para diminuir o débito, os quais provocarão mais desemprego, o que, por sua vez diminuirá o poder de compra, razão pela qual mais empresas fecharão e mais gente irá para o desemprego, acrescentando mais miséria e menos compras. Estão a ver o diabo do esquema? Pois foi aqui que o nosso governo nos meteu e nos quer à viva força, com insensibilidade política e social, conservar.
Tenho ouvido argumentar que não era possível prever esta crise, que chegou até nós por causa dos disparates de “subprime”, que somos inocentes vítimas das circunstâncias, que o futuro é incerto! Pois é! Mas quando a Europa nos destinou para criados de mesa da comunidade não aceitámos a ideia? Não recebemos o dinheiro para desmontar a frota de pesca e deixar de cultivar os campos? Não aprenderam que um dos custos da periferia é o preço dos transportes? Que o custo do transporte de mercadorias e matérias-primas está na razão inversa da distância? Que os países do Leste estão geograficamente mais bem posicionados, que dispõem de mão-de-obra mais qualificada e mais barata? Nem mesmo quando a deslocalização se iniciou foram capazes de prever onde tudo isto iria parar? Se eu não fosse tão desconfiado diria que havia apenas burrice no caso…
No entanto Portugal não é um país arrumado. Se os sacrifícios necessários forem proporcionalmente repartidos e começarmos a pensar um poucochinho mais na colectividade e menos nas contas bancárias individuais, tudo é possível. Sem me querer armar em mais esperto que os outros, atrevo-me a produzir uns pensamentozinhos sobre as possibilidades da pátria.
Reconhecendo sermos um país periférico na Europa, e não querendo aceitar tal coisa como um inexorável destino de habitantes do dormitório europeu, como poderíamos dar uma volta a tudo isto? Em primeiro lugar compenetremo-nos de que periferia é, na época da informação global um conceito obsoleto. Podemos ligar-nos a qualquer lado material ou imaterialmente. O importante não é a distância mas sim o modo como se transpõe. Aqui estou totalmente – parece impossível – do lado do governo em relação ao TGV, Terceira Travessia, Aeroporto e plataforma logística do Poceirão. É que sabem, nos areópagos internacionais estão em preparação novas regras sobre as zonas de dominação marítima que nos irão ser francamente favoráveis. Poderemos reformatar a nossa política de pescas e com isso conseguirmos colmatar o pescado que importamos e, coisa admirável, criar excedentes para exportação em espécie ou transformados, revitalizando pescas e indústrias. E o regadio do Alentejo prometido com o Alqueva? Também poderia, com outra política agrícola, contribuir para a alimentação e exportações. Ou não? Querem ver que estou a ser parvinho de todo? E se o TGV transportasse, rapidamente, com menores custos económicos e ambientais, os nossos bens produzidos para o centro da comunidade? Vêem o jeitão que dava a alta velocidade e a plataforma logística? Então e os produtos pesados e de longa duração, produzidos no centro, não poderiam passar por Portugal e serem remetidos para a África e Américas através dos nossos portos de Lisboa, Setúbal, Sines e Leixões? E não poderemos ser nós, em relação a estes continentes, o Centro da Europa? Então porque é que não somos? Que negligências e interesses se jogam por detrás dos panos? Eu não tenho certezas mas não me faltam desconfianças!
2 – Coração
Nós, portugueses, temos um dilema muito sério. A maioria de nós terá, lá para os idos do tempo, parentes árabes e judeus. Querem apostar? Esta singularidade é perturbadora e incentiva a uma séria guerra nos genes. Por este motivo sempre estive bastante interessado na resolução do problema israelo-palestino. Não me apetece nada ter uma guerra civil no corpo. Por tal se me arrepanhou, mais uma vez, o coração ao saber da investida dos militares israelitas contra barcos civis. Há muito tempo que Israel se comporta como um marginal. O capital de simpatia que recolheu com o holocausto está esgotado e cada vez mais surge a imagem de algo que não se distingue muito bem do antigo opressor. É facto de que ainda não chegaram aos campos de extermínio em massa, mas estão a tentar. Bloqueiam, matam, usam meios brutalmente desproporcionados, não cumprem nenhumas das resoluções das Nações Unidas e parecem claramente dispostos a comprometer e alienar os seus poucos aliados. Utilizam para tal uma retórica tão falível como esta de atacar em águas internacionais navios de outros países – isto é como atacar o país a que o navio pertence – matam e gritam que foram agredidos! Começa a ser demais! Que Israel se lembre, a continuar a sua política agressiva e totalitária, que pode ganhar todas as guerras que puder e quiser mas, para desaparecer, basta-lhe perder uma. A continuar assim pode não demorar muito e lá ficará, no meu coração, o meu gene judio a baloiçar-se tristemente junto ao aurículo das lamentações.
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt
Estejam os meus amigos descansados que só por angustiado humor o título remete para a possibilidade de um fastidioso escrito sobre a anatomia do indígena. Na verdade RIM não é mais que o acrónimo de Recessão, Insensibilidade e Miséria, (fotograma impressionante do estado a que este desgoverno conduziu o País) e coração metaforiza o meu desconforto pelo recente ataque de Israel a barcos civis, em águas internacionais.
1 - RIM
Todos sabemos como os nossos governantes, de há muito, criaram um país virtual apenas existente nos seus privilegiados bestuntos. Nenhum de nós, com excepção dos apaniguados que sempre vêm apenas aquilo que lhes mandam ou convém ver, conseguiu, alguma vez, descortinar as excelências de um poder centrado no desvirtuamento da verdade, no desprezo pela palavra dada ou programa estabelecido, nos volte-faces, tão rápidos, e constantes que metade do país se constipou por causa da deslocação de ar causada por essas ventoinhas.
Depois de em maioria absoluta utilizar a crise geral para camuflar uma outra anterior e estrutural da nossa economia, servindo tais ardis para nada fazer, eis-nos lançados no mais desesperado PEC, com vista a resolver os grandes problemas da dívida externa, do crescimento económico e da percentagem do PIB. As medidas adoptadas, resultantes da visão de uma Europa ainda refém de decisores neoliberais e exigidas por estes com um forte puxão de orelhas a este transviado governo - com algumas veleidades Keynesianas - veio “felizmente” por as coisas no eixo. Esmaga-se mais aqueles que pouco têm, faz-se vista grossa a quem muito possui e pouco paga para o esforço geral da Nação e ala que se faz tarde. Num país em que o desemprego continua a galgar dígitos retiram-se os apoios considerados “indispensáveis” quando o número de desempregados era menor. Atira-se às cegas com o aumento do IVA quando propalam, aos setes ventos, querer aumentar as exportações; taxam-se os salários e reformas, em sede de IRS, e ficam de fora as mais-valias bolsistas, o lucro dos bancos, criando-se a ficção de que as empresas com proventos acima de um certo nível, sofrerão uma sobretaxa. É para rir ou é areia para os olhos? Não se está mesmo a ver que mesmo a maior parte da dúzia e meia de empresas que acedem a tais ganhos vão, subitamente, fazer obras, pagar dívidas no estrangeiro, etc… etc…, que não lhe permitirão manter essa margem de lucros? E se essas empresas fossem taxadas sobre o volume de negócios? Bem, isto sou eu a sugerir sabendo-se que de finanças sou como Jesus Cristo. É apenas uma ingenuidade…
Na verdade, o que as medidas tomadas recortam – quem o diz são economistas com provas dadas - é a continuidade de um ciclo imparável de cortes para diminuir o débito, os quais provocarão mais desemprego, o que, por sua vez diminuirá o poder de compra, razão pela qual mais empresas fecharão e mais gente irá para o desemprego, acrescentando mais miséria e menos compras. Estão a ver o diabo do esquema? Pois foi aqui que o nosso governo nos meteu e nos quer à viva força, com insensibilidade política e social, conservar.
Tenho ouvido argumentar que não era possível prever esta crise, que chegou até nós por causa dos disparates de “subprime”, que somos inocentes vítimas das circunstâncias, que o futuro é incerto! Pois é! Mas quando a Europa nos destinou para criados de mesa da comunidade não aceitámos a ideia? Não recebemos o dinheiro para desmontar a frota de pesca e deixar de cultivar os campos? Não aprenderam que um dos custos da periferia é o preço dos transportes? Que o custo do transporte de mercadorias e matérias-primas está na razão inversa da distância? Que os países do Leste estão geograficamente mais bem posicionados, que dispõem de mão-de-obra mais qualificada e mais barata? Nem mesmo quando a deslocalização se iniciou foram capazes de prever onde tudo isto iria parar? Se eu não fosse tão desconfiado diria que havia apenas burrice no caso…
No entanto Portugal não é um país arrumado. Se os sacrifícios necessários forem proporcionalmente repartidos e começarmos a pensar um poucochinho mais na colectividade e menos nas contas bancárias individuais, tudo é possível. Sem me querer armar em mais esperto que os outros, atrevo-me a produzir uns pensamentozinhos sobre as possibilidades da pátria.
Reconhecendo sermos um país periférico na Europa, e não querendo aceitar tal coisa como um inexorável destino de habitantes do dormitório europeu, como poderíamos dar uma volta a tudo isto? Em primeiro lugar compenetremo-nos de que periferia é, na época da informação global um conceito obsoleto. Podemos ligar-nos a qualquer lado material ou imaterialmente. O importante não é a distância mas sim o modo como se transpõe. Aqui estou totalmente – parece impossível – do lado do governo em relação ao TGV, Terceira Travessia, Aeroporto e plataforma logística do Poceirão. É que sabem, nos areópagos internacionais estão em preparação novas regras sobre as zonas de dominação marítima que nos irão ser francamente favoráveis. Poderemos reformatar a nossa política de pescas e com isso conseguirmos colmatar o pescado que importamos e, coisa admirável, criar excedentes para exportação em espécie ou transformados, revitalizando pescas e indústrias. E o regadio do Alentejo prometido com o Alqueva? Também poderia, com outra política agrícola, contribuir para a alimentação e exportações. Ou não? Querem ver que estou a ser parvinho de todo? E se o TGV transportasse, rapidamente, com menores custos económicos e ambientais, os nossos bens produzidos para o centro da comunidade? Vêem o jeitão que dava a alta velocidade e a plataforma logística? Então e os produtos pesados e de longa duração, produzidos no centro, não poderiam passar por Portugal e serem remetidos para a África e Américas através dos nossos portos de Lisboa, Setúbal, Sines e Leixões? E não poderemos ser nós, em relação a estes continentes, o Centro da Europa? Então porque é que não somos? Que negligências e interesses se jogam por detrás dos panos? Eu não tenho certezas mas não me faltam desconfianças!
2 – Coração
Nós, portugueses, temos um dilema muito sério. A maioria de nós terá, lá para os idos do tempo, parentes árabes e judeus. Querem apostar? Esta singularidade é perturbadora e incentiva a uma séria guerra nos genes. Por este motivo sempre estive bastante interessado na resolução do problema israelo-palestino. Não me apetece nada ter uma guerra civil no corpo. Por tal se me arrepanhou, mais uma vez, o coração ao saber da investida dos militares israelitas contra barcos civis. Há muito tempo que Israel se comporta como um marginal. O capital de simpatia que recolheu com o holocausto está esgotado e cada vez mais surge a imagem de algo que não se distingue muito bem do antigo opressor. É facto de que ainda não chegaram aos campos de extermínio em massa, mas estão a tentar. Bloqueiam, matam, usam meios brutalmente desproporcionados, não cumprem nenhumas das resoluções das Nações Unidas e parecem claramente dispostos a comprometer e alienar os seus poucos aliados. Utilizam para tal uma retórica tão falível como esta de atacar em águas internacionais navios de outros países – isto é como atacar o país a que o navio pertence – matam e gritam que foram agredidos! Começa a ser demais! Que Israel se lembre, a continuar a sua política agressiva e totalitária, que pode ganhar todas as guerras que puder e quiser mas, para desaparecer, basta-lhe perder uma. A continuar assim pode não demorar muito e lá ficará, no meu coração, o meu gene judio a baloiçar-se tristemente junto ao aurículo das lamentações.
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