Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



canção adormentada

Segunda-feira, 24.11.08
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5272228765577430082" />





I
calados pela noite
os amorosos corpos
esperam a nascente
o momento de água
o ventre

tudo chegará na sua vez
tal o real dos dias
na galáxia dos lençóis

centímetro a centímetro
habito de imaginação
a nave da tua pele

com estas mãos construo-te agora
imagem marginal ao pensamento
na duração do tempo

II

no percurso dos lumes dos sentidos
ao dealbar incerto da insónia
caminho por ti escalo-te pico de ternura

tento o futuro debito o sono
nas laudas das histórias

se a noite morreu então que viva
inteirinha nos arcanos da memória

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Carlos Alberto Correia às 14:16

A autista e o "déjà vu"

Quarta-feira, 19.11.08
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270174158761802802" />





Para que não haja mal-entendidos informo, desde já, embora tente racionalizar o mais possível o meu pensamento e indignação, este artigo será, claramente, anti-ministra da educação e respectiva corte.

Não é aliás o primeiro, porquanto, aqui no Rostos “on-line”, dediquei, à inefável senhora, em 1 de Novembro de 2007 a crónica intitulada “É a estatística estúpido”; em 13 de Dezembro do mesmo ano saiu “ O dado e o enunciado” e, finalmente, no rescaldo da primeira grande manifestação de professores foi publicado, em 13 de Março de 2008, “A mão que lhe dá o voto”.

É, como podem ver, um amor que se vai estendendo no tempo e com o tempo se vai confirmando. Aquilo que pensei e escrevi tem, infelizmente, ganhado corpo tornando-se cada vez, se não mais real, pelo menos mais visível.
O problema dos professores – não me refiro apenas ao episódio avaliação – começou muito antes dela e do estatuto da carreira docente. Começou com a posse de uma ministra eivada de neoliberalismo, de terceira via, que tomou, os professores em bloco, como inimigos a abater.

Corria, no início da legislatura, o discurso impressionista de ataque às corporações com alguns proveitos para o Governo que pretendia apresentar uma imagem de força e competência. Percebemos hoje que essa actuação, mais que modificar algo servia, sobretudo, para criar uma identidade reformista. Como é habitual, uma identidade forma-se, geralmente, por oposição a outra pré-existente. No caso do Ministério da Educação, estava-se mesmo a ver que os professores encontravam-se bem a jeito. Assim começou a intoxicação da opinião pública, aparecendo a ministra como a paladina dos bons cidadãos, contrapondo-se aos vilões que tinham o desplante de ensinar - mal - nas escolas e trabalhar pouco. Não procurou encontrar o mau e apoiar o são. Antes pelo contrário. Aproveitando alguns ruins exemplos, minoritários embora, pretendeu que a excepção fosse a regra. Porque a má-fé é como um vírus, altamente contagioso, esta táctica colheu frutos. A ministra embriagou-se de poder, cortou os seus laços com o mundo dos seres vulgares. Subiu ao Olimpo!

Nos antiquíssimos tempos em que a palavra apareceu ministro designava um servidor, em acepção abrangente e servidor de deus, em significado restrito. Com o tempo a significação da palavra foi-se alterando e de servidor o termo passou, para algumas pessoas, a valer o contrário: aquele que, por ter o poder do deus, é servido. Ora adivinhem lá qual foi o sentido adoptado pela nossa ministra?

Pois é, inebriada de poder, esquecida que a fonte da sua legitimidade é o voto e o poder popular, crendo o seu poder derivado directamente de algum confuso deus, tomou a sua palavra como a ordem natural das coisas e o seu querer como único e inquestionável desígnio dos seus serventes. Daí ao autismo foi um passo.

Por isso ela não viu a manifestação dos cem mil e por mais que lhe contem não acredita na dos centos e vinte mil. Se não, certamente perceberia que se oitenta por cento dos profissionais de ensino dizem que algo está mal, não será pura arrogância ou profundo autismo, continuar a afirmar – sem se quer se interrogar um pouco – que o seu método é o único e por isso insubstituível e inegociável? Só poderá ser uma certeza divina, soprada por qualquer poderoso espírito, porque, a qualquer pessoa normal, o volume da contestação levaria, no mínimo, a perguntar se não estaria algo equivocada.

Com estas jigajogas o que poderia ter sido uma forte contestação profissional, transformou-se em confronto político. Tentando aliciar os pais mais distraídos, a ministra do rigoroso discurso anti-facilitista e do reconhecimento do mérito, iniciou um ciclo de facilidades para obter na secretaria o que não era conseguido no campo. Os erros desta política só seriam percebidos no futuro, quando da ministra já nem memória houvesse. Com isto contaria e mais, com um brilharete conseguido na diminuição de despesas do seu ministério. Um pouco como a história daquele cavalo que quando já tinha aprendido a viver de forma económica, sem comer, acabou, inexplicavelmente, por morrer e logo de fome.

Para além do malquerer evidente da ministra em relação aos professores – vá se lá saber porquê – o seu erro básico é olhar para a escola como se fosse uma empresa e tentar geri-la de modo semelhante. Como não é possível tratar por igual o que é, em si, distinto, meteu água. As empresas fabricam ou comercializam “coisas”, a escola prepara cidadãos conhecedores e socialmente actuantes. A escala da empresa é a produção no curto prazo. A escala da escola é a do longo prazo, da vida das pessoas e do enriquecimento geracional. É isto muito difícil de perceber?

Pois a ministra não percebe. Não vê, não ouve, apenas fala. Como um oráculo! Sem possibilidade de contestação. Porque ela quer, porque ela sabe, porque ela manda. O resto que se dane. A sua via é estreita e de sentido único – apesar de frequentemente ter de dissimular preclaras emendas de erros – portanto nós devemos baixar as orelhas e seguir no trilho que nos aponta. Lembro-me que a Bíblia fala do tempo dos falsos profetas e aconselha-nos a distinguir o trigo do joio. Por isso, havendo um problema com dois lados, os professores e a ministra, ameaçando-se instalar entre eles a imparável espiral do ódio, recomenda-se, a quem de direito, que ouse resolver o problema pela via possível:

Exonere-se os professores ou a ministra.



Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Carlos Alberto Correia às 01:24

Professores em Luta - Suspensão da Avaliação

Sábado, 15.11.08
Agrupamento de Escolas de Santo António

MOÇÃO

Considerando que:

- O modelo de avaliação de desempenho, em vigor, devido à sua excessiva carga burocrática e aos pressupostos filosóficos que o suportam, está a prejudicar a qualidade de serviço publico prestado e a criar um clima destruidor da harmonia nas escolas, promovendo uma competição doentia entre colegas e inviabilizando o trabalho cooperativo que sempre nos caracterizou.

- A escolha dos avaliadores foi puramente aleatória, baseada em critérios unicamente economicistas que não tiveram em conta as necessárias competências científica, técnica e pedagógica para a função.

- Não reconhecemos seriedade e justiça a um modelo de avaliação baseado na subjectividade, na falta de transparência e falta de equidade.

- Não aceitamos que o insucesso e o abandono escolares sejam considerados como critérios de avaliação docente.

- Os critérios de avaliação não se devem desviar das práticas pedagógicas dos docentes, no interior da escola.

- As implicações trazidas por este processo de avaliação só prejudicam a carreira dos professores e educadores e em nada abonam em prol do verdadeiro sucesso dos alunos e da melhoria da qualidade da escola pública.

- Acreditamos numa avaliação docente com carácter formativo e precisamos de tempo para dinamizar e concretizar as nossas tarefas.

- Não existe no Agrupamento um calendário de avaliação devidamente aprovado e inscrito em Regulamento Interno, conforme previsto na lei.

Os professores e educadores do Agrupamento de Escolas de Santo António – Barreiro, reunidos em Assembleia Geral, no dia 14 de Novembro, recusam legitimar um modelo de avaliação docente assente na fraude e na iniquidade e participar na institucionalização da destruição do sistema de ensino público. Neste sentido reafirmam a posição, aqui expressa, e decidem:

1. Não entregar quaisquer objectivos individuais no âmbito do Processo de Avaliação do Desempenho para o ano lectivo 2008/2009, não exercendo, deste modo, essa prerrogativa procedimental;

3. Não marcar qualquer aula para observação;

2. Marcar para o dia 19 de Novembro, entre as 12 horas e as 14 horas a entrega simbólica do documento de formulação de objectivos individuais em branco nos serviços administrativos do agrupamento.

Santo António, 14 de Novembro de 2008

A presente moção foi aprovada por 79,1% dos presentes na assembleia, representando 110 votos, num total de 139 presenças, e será enviada para:

Comissão Executiva Instaladora
Conselho Geral Transitório do Agrupamento
Conselho Pedagógico do Agrupamento
Assembleia da República
Presidente da República
Ministério da Educação
Conselho Científico da Avaliação de Professores
Sindicatos de Professores
Órgãos de Comunicação Social

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Carlos Alberto Correia às 13:14

Manifesto

Quarta-feira, 12.11.08
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5267848358575510898" />


A Jorgete enviou-me este texto por e-mail. Não resisti e pedi-lhe que me autorizasse a publicá-lo. Autorização concedida e texto na "berra".

Que se medite...





Dizem alguns que nada podemos fazer contra um sistema de mil tentáculos, manipulador da justiça e das opiniões ;
Dizem outros que nada se consegue contra dirigentes empedrenidos que apenas enxergam os cifrões que vão conseguir amealhar com a morte do ensino público e muito mais com os milhares que hão-de conseguir com a fomentação do ensino privado;
Dizem os nossos chefes que a lei é para cumprir, que não temos poder para ir contra as regras instituídas;
Ameaçam-nos outros mais ou menos veladamente, com processos, com despromoções, com o congelamento das carreiras;
Outros ainda se mostram compungidos, martirizados e solidários, mas...nos atulham de papeis, de fichas, de planos, de prazos a cumprir;
Os senhores do momento enchem os jornais com mentiras ditas como se fossem verdades e ninguém os desmente.
Pairam sobre nós fantasmas do passado. O medo instala-se e a habitual acomodação lusitana nos aconselha a cruzar os braços.
Mas 120.000 encheram as ruas e o minuto de silêncio total, durante a Marcha, foi mais ensurdecedor que mil gritos e deu a resposta de uma classe que não está morta.
Uma classe que ensina às suas crianças e jovens, como um valor de cidadania, que devemos ser íntegros e lutar por aquilo que achamos justo.
Uma classe que é formadora de novas gerações e por isso deve ter a coragem de dizer : Basta!
E os milhares que encheram a Baixa de Lisboa honrarão o seu compromisso e dirão não a esta avaliação. E os milhares que ergueram as suas bandeiras honrarão os gestos e as palavras e dirão: Somos professores! Nós temos a força da razão e mais do que qualquer outra classe, podemos mudar o mundo.
Sim, nós podemos.



Maria Jorgete Teixeira

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Carlos Alberto Correia às 18:56

O mundo de Obama

Segunda-feira, 03.11.08





Dois dias depois da ressurreição de Vasco Gonçalves, dois dias antes da muito provável eleição de Barak Obama, para Presidente do Império Americano, sinto, fisicamente, que estamos na viragem de uma esquina da história.

Ao nível do nosso pequeno rincão, trinta e três anos passados sobre o 11 de Março de 1975, o Governo, que até ontem afirmava a pés-juntos a excepcionalidade dos nossos bancos em relação à crise, veio apressadamente reconhecer o risco iminente de falência do BPN, optando pela nacionalização desse banco, preparando o terreno para, noutros, actuar em futuras intervenções nacionalizantes .

É caso para dizer: Eu bem avisei!

Claramente, desde que o neo-liberalismo conservador entrou como furacão no mundo, soprado pelos inefáveis Thatcher e Reagan, qualquer pessoa com um mínimo de entendimento das coisas perceberia que a Donas Brancas, independentemente das suas dimensões e estatutos, derrocam sempre que alguém, por necessidade, desconfiança ou aviso, decide resgatar, em bens reais, a moeda escritural que possui. Aí, o mundo desaba!

Que é o que no momento acontece!

Um pouco por toda a parte os Governos intervêm na economia, renegando o sempre presente discurso do menos Estado, optando pelo pecado capital de, utilizando as designações defensivas que quiserem, nacionalizar, nacionalizar, numa patente demonstração de falência da auto-regulação dos mercados em geral e do financeiro em particular.

Deste modo, quando Obama entrar na Casa Branca, herdará de um império a desfazer-se, a necessidade de encontrar caminhos para a salvação do país e do mundo. As expectativas são grandes, as dificuldades enormes e as desilusões engordarão a ritmo acelerado. É que o império já não é o império. Bush estilhaçou os capitais económicos, éticos e de confiança que lhe foram parar às mãos. As suas equipas de neo-conservadores produziram pobreza, mal-esta, guerras, um pouco por todo o mundo e, não fora a velha Europa, a teoria da guerra preventiva teria levado o mundo à insanidade total. Portanto é uma América desprezada, a empobrecer aceleradamente, que o espera, exigindo-lhe rápidas decisões e soluções adequadas, habituados que estão a meios de que já não dispõem.

No entanto o mundo não pára. Ele há o Irão a caminho de se tornar uma potência nuclear. Temos a Índia que, utilizada como tecnologia de custo baixo, mandou um recado ao mundo ao colocar o seu satélite em órbita lunar. Não se esqueçam que a Índia é possuidora de armas atómicas, de uma população enorme, de conflitos político-sociais sem nome e, disse-nos claramente, tem agora um transportador capaz de colocar ogivas em qualquer ponto do Globo. Que dizer da China com os seus milhões de habitantes, com o crescimento contínuo, à décadas, a dois dígitos e a avassaladora possibilidade de continuação de “dumping” social levando a deslocalizações, de empresas, empobrecedoras do mundo ocidental?

E o Brasil emergente, a pouco transparente Angola, a intranquila Venezuela? E o resto de África a ferro e fogo, com levas de deslocados e emigrantes a escreverem uma nova odisseia de miséria, buscando a felicidade no mundo rico que, também, o é cada vez menos?

Com tudo isto e mais a crise se defrontará Obama se for eleito. E mais, com a absoluta necessidade de se manter vivo, o que, creio, não será tarefa fácil.

Assim, o mundo de Obama será, já é, um imenso “puzzle” onde sobram os problemas e mingam soluções. Mas o pior, é que este mundo tão precário, é o mundo que fomos capazes de legar aos nossos filhos! Não vamos fazer nada contra isto?

Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt/

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Carlos Alberto Correia às 15:27