novas histórias de penélope - ulisses não volta
Terça-feira, 03.07.07

I
não há barcos em ítaca morre-se entre o nevoeiro
e ulisses não volta
não há remos e as ilhas
afundam-se entre a barra sem a barca de ulisses
circe desmonta inútil o encantamento
eólo brame as velas afasta tróia e
em tréguas de sal penélope espera na moldura
em vão espera penélope um ulisses se âncora
ulisses desgarrado nas quilhas da inquietação
penélope espera em vão
II
o seu corpo pairava sobre as águas
concebível nas formas que lhe dava
o seu corpo quieto sonhando o movimento
não se aquietava
em plena era de bruma sobre as águas
feridas de ulisses vinham as memórias
onde ulisses já sem vida se agitava
III
volta de novo ao esconço da capa dp retorno
morre capitão torna soldado ferido e sem glória
volta momento e só sem mais história
mas ulisses já não volta
consumido por presságios morenos que trouxera
corta as amarras e a miragem de ondas que fizera
e na sua metáfora
escondido momento de amargura
penélope está à espera
sem procura
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novas histórias de penélope
Segunda-feira, 02.07.07

(imagem David Ligare)
penélope a que espera por paixão
já não espera não a espera
desesperada
penélope
já não espera nada
porque esperar é um cansaço de olhos
um cardo
escolho da terra desventrada
penélope
já não espera nada
e no entanto
ulisses em tardança
é uma forma perversa
de esperança
é que penélope não espera a espera
atende que a porto desejado
a clássica manhã se aventure
no espaço transformado
assim penélope
no termo da solidão
fica parada
e não espera nada
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novas histórias de penélope - polifemo
Domingo, 01.07.07

hoje ulisses embarcou
num ovni
a caminho da estranheza
apegada à terra
penélope circunda os espaços
na procura da fronteira
dos abraços
ulisses tem
uma nave um caminho
e penélope a firmeza de um carinho
só concebido em votos
mas real
se ulisses é o percurso
o por fazer
penélope é o porto da certeza
de uma imensa forma
de estar
ulisses passa mal
agoniza no tempo
penélope tece o seu momento
a sua calma forma
de aguardar
o mar é um espaço
um fosso um tormento
que há que navegar
de repente a ilha
o asteróide surge
na proa enloquecida
sabe ulisses então
que viverá ali
um tempo já vivido
de polifemo o gado pasta lá
e a fome de ulisses repentina
aguça-lhe o engenho e vá não vá
toca de dizimar a raça ovina
polifemo está só
no seu disforme corpo
no seu olho solitário e transviado
roda a saudade como dura mó
suavizada apenas pelo cuidado
que em desvelos ao seu rebanho
dá
polifemo disforme é generoso
e percebe um filho seu em cada anho
polifemo está só
que galateia por ácis o trocou
e partiram para a morte bem juntinhos
no sonho que os tocou
em vão polifemo
tenta esquecer
o amor que ele mesmo
fez morrer
ulisses o sozinho não apreende
em polifemo o companheiro
a quem a solidão mais dura ofende
e contra a sua nave
o seu ribeiro
trocaria de boa-mente o polifemo
o seu rebanho inteiro
desesperado
ulisses sem razão
mata a esmo
procura na carnagem a vingança
para o não regresso
a cruel tardança
em que lhe tarda a volta
e a esperança
aparelha a nave e quer partir
nada escuta e num olhar
tresvairado pelo soco do a vir
fixa a muda nave em rota estelar
e deixa o gigante
sem nenhum rebanho para cuidar
ai do cego ciclope
corpo disforme
sempre a recordar
onde o apagado olho
já não brilha
como farol do tempo
fogo enorme
onde a nave de ulisses
te deixa sempre só
na tua ilha
ele por si tem o seu curso
percorre a aventura
e se não encontra aqui
o que procura
pode sempre ir mais longe procurar
e tu que de galateia
o eco só tiveste
estarás sempre mais só
sempre mais triste
porque quanto tu tiveres
será roubado
no espaço cego
polifemo chora
a morte do seu gado