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Que fazer com este Blogue?

Domingo, 29.01.06
Durante cerca de uma semana, por avaria no servidor, estive sem acesso à Internet. Assim, o que foi um percalço comunicacional transformou-se num período de reflexão sobre as razões de existência e continuidade deste espaço cibernético.

Relembro que o ponto fulcral para este lançamento foi a afirmação inequívoca, por parte de Manuel Alegre, da sua decisão de concorrer às eleições presidenciais. Passadas estas, resta saber da bondade ou necessidade de continuação destas parlendas.

Olhando para os três meses que precederam o acto de votação, para a campanha eleitoral, para as quezílias levantadas, sobretudo contra Manuel Alegre, pelos outros candidatos e muitos comentadores, fica-me a sensação de que o combate não só valeu a pena como foi eficaz.

Desde início se sabia que esta candidatura seria incómoda para o Partido Socialista. A sua má escolha e sobretudo a forma pouco edificante como as cúpulas decidiram o nome do candidato, faziam prever forte comoção no Partido. Era natural! Então, porque é que os outros candidatos e meios de comunicação ficaram tão apoquentados?

Elementar meu caro Watson!

A decisão de Manuel Alegre foi uma pedrada na paz podre da situação política no País. Todos os partidos, na comodidade da sua instalação no sistema, sentiram a ameaça como sua. Se de repente todas as pessoas começassem a por em causa as decisões dos órgãos partidários e tomassem decisões próprias; ou sentissem que a sua voz vale mais que um simples aquiescer e pudesse tomar volume e vontade própria, não teriam os partidos de repensar as suas abordagens e decisões?

Mais ainda. Afirmou Manuel Alegre que ninguém é dono da Democracia. É verdade, adiro completamente a este conceito mas, há por aí muito boa gente que pensa o contrário e age de acordo com esse pensamento.

A título de ilustração relembro um episódio – que não foi único – passado na junta de freguesia a que pertenço, aquando da discussão para eleger os representantes dos candidatos para as mesas de voto.

Estiveram presentes na reunião os representantes de quatro candidaturas e havia sessenta lugares a distribuir. Pareciam fáceis de fazer estas contas. Mas não foram. O representante de um candidato, que em termos partidários e nas eleições anteriores dispunha de 25 lugares, recusou-se a admitir a diferente lógica das eleições presidenciais, e com o pretexto de que tinha direitos adquiridos àqueles lugares, boicotou a representação do nosso candidato nas mesas de voto desta freguesia. Este pensa que é, senão dono da Democracia, pelo menos das mesas de voto. E na verdade foi-o porquanto o Presidente da Câmara, numa decisão legalmente correcta mas eticamente reprovável, por inacção, convalidou esta absurda posição.

É contra este mentalidade que se formou este movimento de apoio a Manuel Alegre e é porque ela existe que é necessário, por todos os meios e em todos os tempos, continuar a afirmar o direito à nossa diferença.

Por isso, está decidido! O Blogue continuará a viver e a expressar, do modo que os seus subscritores determinaram, os mais fundos desígnios e desejos que enformaram o movimento e apoiará e colaborará nas decisões que no âmbito deste movimento vierem a ser tomadas. Mantendo a nossa independência crítica, não deixaremos de ser parte deste colectivo que se consubstanciou em torno da figura de Manuel Alegre.

Que novos desafios e projectos surjam para que a nossa força se manifeste!

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publicado por Carlos Alberto Correia às 14:31

Barreiro – A centralidade periférica

Sábado, 21.01.06
Trace-se um círculo ao redor da Grande Lisboa. No centro, no âmago dessa massa de gentes e construções, situa-se o Barreiro. No entanto, é mais excêntrico, mais periférico, que as periferias geográficas. A que se deve tão estranha contradição?

Delineemos uma brevíssima incursão sob a história moderna do Barreiro. Criado por gentes marinheiras que se foram radicando junto ao rio foi, mais tarde, acrescentado por ferroviários e operários das indústrias químicas. Nasceu assim uma urbe diversificada nos pólos de desenvolvimento mas unida na vida associativa e política.

O seu acentuado querer de esquerda não lhe granjeou simpatias nem benefícios na ditadura. Apesar disso e mercê da força do seu colectivo sobreviveu e a industrialização, acompanhada de fenómenos de imigração, desenvolveram, embora de forma algo caótica, a urbe.

Era de esperar que com os alvores da Liberdade um surto de progresso e modernização rebentasse na então vila da pertinaz resistência. Contudo, por fenómenos que podemos enumerar mas que só os sociólogos poderão analisar em profundidade, o Barreiro começou a ser lentamente estrangulado.

Porque é que sendo, durante tantos anos, um centro Ferroviário se viu despossuído do seu terminal e o comboio que liga a Margem Sul a Lisboa parou primeiro no Fogueteiro e depois avançou para Coina, evitando o Barreiro?

Porque é que a Ponte Vasco da Gama, envolta na polémica do seu posicionamento, foi desviada do Barreiro, local de mais forte densidade populacional, e a colocaram em zona desviada onde menor serviço poderia fornecer a esta população?

Porque é que o Metropolitano, em perspectiva, continua em cortes e plantas com miríficas datas marcadas e nenhuma solução à vista.

Se a estas interrogações acrescentarmos os efeitos do encerramento das fábricas da Quimigal, sem que outras unidades produtivas mais modernas e eficientes a tenham substituído, começamos a vislumbrar os motivos, induzidos por estranhos interesses, que estão a levar o Barreiro a uma dolorosa estagnação.

O comércio tradicional agoniza cercado pelos grandes Centros Comerciais implantados nos arredores distantes da Metrópole. A população começa a envelhecer e a diminuir, incapaz de fixar os seus jovens que procuram vida em zonas menos afectadas pelas crises nacionais ou locais, assim se entardecendo uma cidade!


No entanto, com um pouco mais de atenção dos Poderes, poder-se-ia dar prontamente um rejuvenescimento do tecido sociocultural e económico desta urbe. Esperamos pelo Polis; pela reclassificação urbana; pela devolução do rio à paisagem e lazeres da população; pela possibilidade de alargamentos do pólo de estudos superiores; pelo desenvolvimento de uma indústria forte, não poluente e actualizada; quem sabe por companhia residente de teatro, orquestra, bandas e outras actividades de religação social e, talvez, da nunca construída ponte ferro-rodoviária aproximando de vez esta centralidade periférica do centro a que realmente pertence.

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publicado por Carlos Alberto Correia às 13:15

Glosas à Trova do Vento que passa

Quinta-feira, 19.01.06
Com a devida vénia transcrevo estas décimas enviadas, por "e-mail", por uma amiga e da autoria de Manuel Inácio Veladas:



Mote

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu País
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz

(Manuel Alegre)

Glosas



Este mote ouvi um dia
Numa canção bem cantada
E por mim considerada
Das mais lindas que eu ouvia.
Quem fez esta poesia
Via o futuro sem ter graça,
Sem algo que o satisfaça
No seu exílio infernal,
Notícias de Portugal,
Pergunto ao vento que passa.




Sofreu, não desesperou
Dum sofrimento tão vil,
Mas o 25 de Abril
Afinal sempre chegou.
Satisfeito regressou
Considerou-se feliz
Por ver o que sempre quis
- Em Portugal nova aurora –
Perguntava a toda a hora
Notícias do meu País.



Dizia Manuel Alegre
No seu exílio sombrio:
Se morrer, morro com brio
Sem que à tristeza me entregue,
Por muito que alheio navegue
Sou quem o exílio abraça,
Julgo o vento de má raça
Porque o é, infelizmente.
De quem sofre injustamente,
O vento cala a desgraça.




Sofreu com brio e coragem
Esperava a todo o momento
Que até o próprio vento
Lhe levasse uma mensagem.
Não o quero em desvantagem,
- Ponham-se as pintas nos iis! –
Não sejamos imbecis
Deixemos de hipocrisia,
Lembrai-vos quando ele dizia
O vento nada me diz!


Évora, 14 de Janeiro de 2006

Manuel Inácio Veladas (Ti Limpas)

Manuel Inácio Veladas é natural de Ferreira de Capelins, Alandroal, onde nasceu e reside há 76 anos de idade.
Toda a vida trabalhou na Agricultura e, nos últimos anos, tem vindo a ajudar a construir a Confraria do Pão (Alentejo), cujo Centro de Documentação já publicou o Livro “Nasce do Meu Pensamento”, com algumas das poesias populares alentejanas que vem fazendo e aprendendo desde criança.
Com uma vastíssima e riquíssima obra, é, seguramente, um dos mais importantes Poetas Populares que o Alentejo e Portugal já teve.

ESTAS DÉCIMAS FORAM FEITAS DE IMPROVISO PARA A MANHÃ DE 14.01 EM ESTREMOZ

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publicado por Carlos Alberto Correia às 18:20

MEGA CONCERTO

Sábado, 14.01.06
No dia 19 vamos encontrar-nos no Pavilhão Atlântico.
Que a festa dure até às tantas...

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publicado por Carlos Alberto Correia às 21:59

Cavacorrências

Segunda-feira, 02.01.06
Não sei depois o que aconteceu. Não sei sequer se estou a contar um sonho. Não sei. Ninguém sabe. Ninguém nunca saberá.

Escuro, O Quadrado, Manuel Alegre





Cavaco quer ser presidente da República. Isto é, Presidente de todos os portugueses. O que é uma impossibilidade!
Até pode ser que Cavaco ganhe as eleições, mas, o que nunca ganhará é o coração de todos os portugueses. Nem sequer da possível maioria que o possa eleger.

Porque Cavaco é um equívoco!

As suas possibilidades existem na razão inversa das possibilidades do nosso Povo. Da esperança de que um Presidente, versado em economia, seja aquilo que ele não é, por não o ser e por, mesmo que queira, nunca poder ser:

Uma Providência!

Alguém fez confundir Presidência com Providência. Como se sabe, são bem distintas coisas. Existem em diferenciados níveis e funções. Não são fusionais. Cavaco, por mesquinhos interesses, permite e alimenta a confusão. Assim se cala ou dizendo não diz: repete o ensaiado monólogo da competência. Sua! Que só ele encontra nele. Que os seus próceres repetem à exaustão. Cavaco não é propriamente um candidato. É um produto.

Cavaco é também um medo!

Primeiro de si mesmo, de se descolar do boneco que vestiu. Assim o seu ar plástico. Esgar cortado na boca o seu sorriso. Virtual a comunicação. Nada é nele autêntico. Tudo é programado. Cavaco tem medo de falhar o papel.
Depois é nosso o medo de que o país possa ser exactamente aquilo que Cavaco diz que ele é:

A vocação pequenina do quase nada. O não saber. O não querer mesmo saber senão aquilo que é o Ser no mais rasteiro quotidiano. Cavaco é um medonho deserto de emoção. Uma retórica vazia. Um conteúdo de nada.

Cavaco transporta uma visão do mundo que fica “entre”!

Não é clara nem clarificável. Situa-se no terreno movediço das fronteiras ambíguas. Não é de direita nem de esquerda. Não é político, embora o seja. Não pertence ao Povo nem às elites. Situa-se entre o que é e o que deseja ser, sendo apenas o que apenas parece.

Cavaco é um simulacro de si próprio.

Poderemos dar-nos ao luxo de eleger um simulacro de Presidente? Eu não o quero! Prefiro o seu anverso. Que faz versos!

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publicado por Carlos Alberto Correia às 13:42