Nu, silêncio escrevo-te
“o fim último da palavra é o silêncio”
A partir do aforismo búdico acima inscrito pretendo alinhar algumas sensações trazidas pelas palavras de António Sousa Pereira, no livro recentemente apresentado ao público, com o título que ouso utilizar a encabeçar este artigo.
Para as civilizações orientais o silêncio define-se como forma de respeito e sabedoria, um meio para alcançar a compreensão mais profunda da realidade. Já no Ocidente, pode o silêncio ser considerado como falta de interesse, desconforto ou desinteresse.
Deste modo, logo no título, o autor, em dupla provocação, escreve-se Nu e no recolhimento de alguém que, abandonando os ruídos quotidianos, se apresenta despido de preconceitos usando, de forma transparente, o silêncio como meio privilegiado de comunicação. Lembremo-nos que já, Saint-Exupèry, no “Principezinho”, dizia serem as palavras, por vezes, fontes de mal entendidos. Coloca-nos, deste modo na aparente contradição de usar, para comunicar, o silêncio. No entanto, e aqui o jogo filosófico poético deste livro, é com palavras que comunica os silêncios que as palavras contêm e com o qual transmite mais profundamente aquilo que o usos das palavras, só por si permite. Confuso? Pois, é que Sousa Pereira procura expressar pensamentos e sentimentos que só o complexo corpo/espírito pode, em sensações e afeições expressar, e que, ao traduzi-lo com palavras algo se perde, se transmuta, trai e desvia da essência das coisas. Estamos pois perante um livro de poemas e prosa poética que encarna a linguagem profunda da filosofia, ou perante uma filosofia do estar e do sentir que se expressa na linguagem poética. É assim a grande articulação deste pequeno livro.
Sabemos que o efeito poético resulta, muitas vezes, nos espaços do não dito, nas pausas e silêncios que se insinuam no campo entre as palavras. Por isso, quando nos diz “É pelo silêncio que vamos” convoca-nos, o autor, a penetrar na liberdade oferecida pelo ato silencioso de meditar, de parar de alguma forma o correr do tempo, para melhor aprofundar a substância das coisas que se expressam quando o ruído se esvai. Esta “ida pelo silêncio” traça um percurso que vai da experiencia sensorial à expressão artística.
Reforça esta ideia quando nos diz “o poema nasce nu” – tal como se escreve Nu – e, neste passo indicia a pureza da criação artística, o trânsito entre os “sons que emocionam o corpo” para “ o poema que nasce”, evidenciando a conexão profunda entre a experiência dos sentidos e a criação poética, no caminho da “Esperança”, palavra que emerge como o estado do Ser que emerge do silêncio.
Este silêncio, que não representa a falta de voz, aparece, pelo contrário, como forma de repressão do vazio, como fonte de libertação, como expressão sem manchas, nem sombras, do EU primordial. É no silêncio que o autor se encontra, libertado de amarras externas e, quase de forma mágica, descobre a essência da sua voz própria. Num mundo repleto de ruídos encontrar o silêncio é não só um ato de resistência, como uma jornada tendente à mais genuína emancipação criativa. Torna-se, deste modo, o silêncio o terreno propício à poesia, à descoberta de uma liberdade mais autêntica e profunda, porque o mesmo advém “do abismo dos nervos”, remetendo para a relação complexa entre o físico (o sistema nervoso) e a mais íntima profundidade da essência espiritual, local onde a beleza e fragilidade do ser do humano é construída.
Mas o autor também nos diz que o silêncio se faz “cascata de musicalidade”. Esta imagem sugere um fluxo contínuo e poderoso, uma harmonia interna, o ritmo que apenas se apercebe na quietude da mente ou do coração, construindo-se em inestimável fonte de autoconhecimento e paz interior. É neste silêncio que se encontra a verdade do que e quem somos e nos define enquanto seres humanos.
Por “ter opinião é pensar o que vivemos”, ou digo eu, o que lemos, tracei estas linhas motivado pelo desejo de comunicar o momento em que, pegando neste livro, o devorei de seguida, nascendo então o desejo de entrar em diálogo incorpóreo com o autor. As opiniões expressas derivam daquilo que das palavras que li, eu interpretei e fiz minhas. A ele caberá considerar o ato como lícito ou abusivo, mas como “quem constrói a casa na praça arrisca-se a que lhe atirem pedras” aqui vão as minhas pedradas, eivadas da noção de quanto disse não chegou a dizer o necessário, ou mesmo o mais importante. Por tal me penitencio e proponho, a quantos fizeram o favor de seguir estas linhas, que se munam do livro, editado pela KDP-AMAZON, e queiram fazer o favor de julgar a oportunidade das mesmas.
Ao Sousa Pereira expresso a minha gratidão pelo que expondo-se nos expôs e aguardo os anunciados dois volumes que completarão este ciclo.
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O discurso recorrente
Pois é! Fiquei hoje surpreendido ao ouvir o ministro das finanças do governo desta nova AD, afirmar que afinal o “superavit” do governo socialista era, afinal, um ”deficit”. Quero dizer, apenas como figura de estilo e para captar a vossa atenção e benevolência comecei deste modo. É que, infelizmente, ao longo dos anos, assisti sempre ao discurso promissório das eleições, como à desculpa esfarrapada de quem as ganha – sempre a mesma – de que não poderiam cumprir as suas promessas por descobrirem que o governo anterior tinha pintado um relato cor-de-rosa da situação financeira legada ao presente.
Tanto é assim que, passe a publicidade, não resisti a trazer-vos um texto do meu romance “Momentos para inventar o amor” onde a personagem, depois de derrotar um ditador, no seu primeiro discurso â Nação diz, palavra por palavra, o mesmo que já o derrubado governante pronunciara.
Aqui fica ele para a vossa apreciação e digam lá se não é sempre a mesma canção?
“Cidadãos - dizia o homem forte, de bigode farto, óculos escuros, farda e dragonas de general, ar marcial, fala fluente – a desgraça caiu sobre o nosso país. Todos tivemos conhecimento de como homens corruptos, ambiciosos se apoderaram do poder, usando-o sem rebuços, em proveito próprio e das suas cliques, contra o nosso povo. Era necessário pôr fim a esse regabofe nojento, assente sobre os cadáveres dos nossos conterrâneos. Ao fim de muito tempo de porfiada luta, quis Deus dar-nos a vitória. Não fui eu que venci. Foi Deus, repito, quem assim o determinou. E isto porque é preciso que se faça justiça. Que a cada um seja concedida a sua parte e de cada um possamos receber a doação do melhor esforço para o ressurgimento desta grande nação, do seu glorioso passado, do seu antigo esplendor. Para isso vim, por isso lutei e, felizmente, foi-me pelo Altíssimo, concedida a vitória. Por tal estou hoje aqui, perante Ele e ante vós, para pôr, à vossa disposição o melhor de mim próprio. Não posso prometer riquezas. Prometo muito trabalho e justiça. Justiça na repartição dos alimentos, das casas, da saúde e, não se esqueçam, da educação que poderá transformar este país, de novo, no luzeiro de cultura e prosperidade de que tanto nos orgulhávamos. Reposta a paz, vamos ao trabalho para, engrandecendo-o, nos engrandecermos.
Este é o primeiro compasso, porque a seguir, entra a “canção do bandido”
Infelizmente tenho de continuar, por algum tempo, a pedir-vos sacrifícios. O perigo do exterior é visível. Os nossos vizinhos espreitam, nas fronteiras, o tempo do desfalecimento para nos reduzirem à mais mísera escravatura. Temos de resistir. Para tanto, por meu desconsolo, não posso mudar de imediato, como desejava, a distribuição dos resultados. Teremos de, por algum tempo, manter a quota de três quartos de produção para o custo da defesa e desenvolvimento. Sei que muitos ficarão desiludidos. Esperavam que, ao vencermos, desfizéssemos de imediato o mal causado pelo ditador em boa hora derrubado. Infelizmente não o poderemos fazer. Ao verificarmos as contas percebemos ser a situação económica pior que a revelada por esse governo de ladrões. Mas fica prometido! Será um período transitório e breve. Confiem em mim, como eu confio em vós!”
Por hoje é tudo e vão lá tendo paciência. Mais não digo!
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“Ai chega, chega, minha agulha”
Já, por diversas vezes aqui me debrucei sobre o suicídio interno das democracias. Por isso não vou perder muito tempo com o assunto. Quero apenas recordar que os primeiros sintomas são, na generalidade, os ataques de políticos - que se intitulam como não políticos, embora a política seja, senão a única, pelo menos a principal ocupação – às instituições democráticas. Destaco, com especial relevo, as tentativas de dominar ou enfraquecer o poder judiciário, fazer algo semelhante com os meios de comunicação social (desacreditando-os ou tomando posse deles para utilizarem como porta vozes dos seus interesses). E, cerejinha em cima do bolo, denegrirem a atividade política e dos políticos, acusando-os de ineficazes e corruptos. E mesmo sendo deles parte intrínseca pretendem fazer-nos crer estarem, senão distantes, pelo menos divorciados dos mesmos. Além disso, todos os políticos, volto a frisar, são, para eles e menos eles, por definição corruptos.
Assim, com culpas claras das nossas democracias e instituições, os regimes de respeito pelos direitos humanos vão, lentamente, falhando os seus desígnios gerais e, paulatinamente apodrecendo, dando lugar ao simplismo enganador dos populistas fascizantes, ocupados em fazer esquecer os resultados dos partidos ancestrais dos quais copiam modelos e atuações.
Vem esta introdução a propósito do facto acontecido numa série de conferências promovidas pela Associação de Estudantes da Universidade Católica. Vamos ao caso!
Numa iniciativa, que apenas pode ser louvada, a associação em referência organizou, como já referi, várias palestras com responsáveis por partidos políticos sobre, creio, o atual estado da Nação e a posição dos respetivos partidos, tendo em conta o período eleitoral que se aproxima.
Desconheço se todos os partidos foram convidados, quantos já realizaram as suas intervenções e quais foram as diferentes reações dos assistentes às posições e propostas apresentadas. Devo, por motivos éticos, declarar que, sendo a Católica uma Universidade de elite, pressuponho que a ideologia dominante seja pouco propícia a ideias de esquerda e se inclinem mais para o espetro direito do quadro partidário. Mas, como disse, isto é apenas um pressuposto.
Os factos conhecidos são os de que um jornalista do Expresso, seguramente um perigoso esquerdista, durante a exposição de André Ventura, foi expulso da sala e, invocando o Direito à informação, constitucionalmente inscrito, negou-se à intimação. Então, quatro estudantes, possivelmente membros da Associação, forçaram-no a sair, pegando-lhe pelos braços e pernas e assim o arrastaram para o exterior. Sabemos que a Universidade, em comunicado, prontamente condenou esta atuação, mas também sabemos que vários partidos e comunicadores, aberta ou transversalmente, procuraram justificar o ato.
Os argumentos mais utilizados foram o de que, por decisão da Associação, não haveria jornalistas presentes na sessão. O argumento terá alguma validade e debruçar-nos-emos mais à frente sobre a sua legitimidade. No entanto, esta decisão da Associação não foi a que chegou às redações. No seu lugar adveio uma nota do Chega informando que André Ventura daria uma conferência à chegada e que, no interior, não seriam permitidos aparelhos de gravação, creio que o termo específico utilizado foi o de “imagens”.
Postos os factos, entremos na sua análise.
É verdade que se o intruso entrar na minha casa terei todo o direito de expulsá-lo e de, para tal, utilizar os métodos que a situação requeira. No entanto esta comparação resulta mal.
Primeiro, porque uma Universidade, não sendo propriamente um local público, também não deverá ser apenas algo permitido a restrito grupo de iniciados. Uma Universidade, mesmo privada, faz parte de um corpo mais vasto chamado sociedade, a qual, de forma algo relativa, deverá ser pertença – pelo menos em alguns atos – de parte alargada dessa instituição.
Segundo, houve convite expresso aos órgãos de comunicação para estarem presentes, embora com condicionantes.
Terceiro, no presente período pré-eleitoral – onde todos os partidos já estão em campanha – seria de esperar que futuros e putativos governantes e gestores, estivessem interessados no esclarecimentos mais alargado possível das escolhas a submeter ao critério popular, tanto mais que neste tempo de pós-verdade, especulações e manipulações nas redes sociais, noticiários a tender para o oficioso e para o “jornalismo repetitivo” de Agências Noticiosas, é dever de quem pensa o futuro proporcionar, quanto possível, a informação direta vinda de fontes diretas e tratada por quem tem o dever deontológico da maior imparcialidade possível.
Postos os factos, aduzidos os argumentos, parto para as minhas preocupações fundamentais.
Sem um jornalismo independente e livre de restrições abusivas, não é possível criar uma opinião pública esclarecida e participativa. Sem esta opinião é completamente impossível manter e fortalecer as instituições democráticas. Na maior parte dos casos a obstrução à livre informação (não confundir com bisbilhotice comum) é considerado crime público. Deste modo a expulsão de um jornalista, sobretudo da forma como foi e por quem executada, torna-se um grave atentado ao Direito à informação e traz-nos à memória tempos e acontecimentos aterrorizantes que críamos já não serem possíveis em sociedades contemporâneas avançadas. Parece, pois, por estes e mais factos que estou enganado e que, não se repetindo, a História aparenta deslocar-se de forma helicoidal, isto é, não sendo exatamente os mesmos acontecimentos serão, em diferente nível, muito semelhantes. Tudo dependendo do contexto e da época.
Pois é, para certas pessoas e grupos, a Democracia é uma chatice e o melhor é, umas vezes devagarinho outras com maior estridência, acabar com essa mania de ter direitos, ser igual e ao mesmo tempo diferente. É confusão a mais! O melhor é regressar ao Deus, Pátria e Família. E já agora, para o quadro ficar completo, vamos retornar aos filmes a preto e branco e, em coro, cantemos todos “ Ai chega, chega, minha agulha / afasta, afasta meu “didal”.
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As personagens
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Democracias e ciclos de Krondatiev
1 – Desilusão, medo e náusea
Em vésperas do quinquagésimo aniversário da queda do regime corporativo do Estado Novo (uma espécie de fascismo edulcorado), olho, com enorme perplexidade, para o País e para o Mundo e sinto a fragilidade das democracias, o seu enfraquecimento por fatores internos e externos, e o afloramento, por todo o lado, de indesejados regimes autocráticos e ditatoriais.
Defendendo, como Churchill, ser a Democracia “o pior de todos os regimes…exceto todos os outros”, sou, ao mesmo tempo, tomado de desilusão, medo e náusea.
Provém a desilusão de, tendo passado parte importante da minha vida sob alçada ditatorial, ter dificuldade em perceber como tantos parecem estar, de novo, a preferir regimes autoritários; o medo, consequência do estado de desilusão próprio e das massas, é o do retorno a sociedades onde só não curo viver, como cheguei a pensar ser impossível a volta do passado. Finalmente, a náusea chega-me com a dificuldade de explicar e explicar-me, as razões desta involução.
Por tanto decidi-me a tentar perceber o porquê desta insólita e degradante caminhada, lembrando-me que esta revoada pode bem ser cíclica e, aventurando-me sem rede, procurar uma explicação consequente com os ciclos de Krondatiev.
2 – Democracias
Quando falamos de Democracia, falamos de quê? Da democracia Ateniense, onde só os cidadãos de Atenas tinham direitos e os estrangeiros, ou os escravos, estavam totalmente desprotegidos, sem quaisquer direitos? Da Democracia formal, na qual o direito de voto – tantas vezes enviesado por corrupções várias dos sistemas – é garantido; da Democracia Social que visa reduzir as desigualdades e garantir, a todos, o acesso à Educação, Saúde, Habitação e Segurança; ou da Democracia Económica garantia da distribuição justa dos meios económicos, promotora da igualdade de oportunidades e da regulação do mercado?
É que só uma Democracia que envolva estes três planos pode ser considerada plena e justa. Na maior parte dos casos encontramos somente Democracia Política e, em situações pontuais descobrimos sociedades com maior ou menor percentagem da Social e Económica.
Esta situação é muito traumática. Na maior parte dos casos os povos que alcançam a Democracia esperam que o regime lhes traga os direitos, liberdades e garantias da Democracia Plena, isto é, Política, Social e Económica. Na realidade o que aporta é alguma igualdade política, poucos e periclitantes direitos sociais e um quase nada, ou mesmo nada, de participação no progresso económico. O resultado é, por norma, a frustração, seguida do descrédito no sistema. Assim, pelas suas corrupções e incapacidades, a Democracia vai-se corroendo por dentro, desencantando quantos dela esperavam liberdades várias e desaparecimento, ou no mínimo atenuação, das desigualdades sociais. Destas contradições vão-se aproveitando os defensores das democracias iliberais, das distribuições de réditos por méritos pouco transparentes, das desregulamentações dos mercados, com efeitos fatais sobre a posse dos meios de produção, a justa repartição de rendimentos, o anquilosar das instituições de solidariedade social, o favorecimento de empresas privadas a trocar, impunemente, as obrigações de bem-estar geral, pelo só daqueles que o podem pagar.
3 – Neoliberalismo
Uma destas doutrinas, mais enganadora e, atualmente com enormes repercussões negativas na dinâmica social é, sem dúvida o neoliberalismo. À partida parecem muito convincentes três das suas proclamações: a livre iniciativa, a regulação automática pelo mercado e a já citada desregulamentação, pressuposto fulcral para a implantação da livre iniciativa. Ora, este canto de sereia, a ganhar espaço há muito tempo nas instituições ocidentais, esconde uma lógica antidemocrática de exclusão, aumento das desigualdades socioeconómicas, logo de degradação democrática, conducente aos perigosos caminhos do desespero e revolta. No entanto o seu discurso não deixa de ser encantatório, fazendo crer a qualquer um que poderá atingir os seus objetivos, dependendo apenas das suas capacidades e esforço. O que ele malevolamente esconde é o contexto social, o desigual ponto de partida de cada membro da sociedade, os diferentes capitais sociais, económicos e culturais de cada qual. A resultante desta equação, como se tem vindo a observar no descalabro do mundo, é o recrudescimento das polaridades surdas a argumentos diferentes dos seus, logo dos conflitos, da violência, da guerra. E, clarinho, o aumento das preferências por políticas ultra direitistas que criam e amamentam as desgraças antes referidas.
4 – Ciclos de Krondatiev e Democracia
Os ciclos de Krondatiev, também conhecidos por ciclos económicos longos, postulam que as economias, sobretudo por motivos de alterações tecnológicas importantes, passam por fases de expansão, recessão, depressão e recuperação. Estes ciclos verificam-se, normalmente em períodos de quarenta a sessenta anos.
Embora não seja matéria assente é interessante, olhando para a História, verificar que também existem ciclos semelhantes nas transições entre democracia e autoritarismo e vice-versa. Daqui intuir que possa haver, senão uma correlação, pelo menos uma relação direta entre estes dois ciclos. Sabemos que as condições económicas, ao levarem a descontentamentos profundos, podem influenciar mudanças políticas. Também não é desconhecido o impacto social causado por avanços tecnológico (ex: invenção da máquina a vapor, uso do aço e eletrificação, difusão da informática e, presentemente a aceleração do uso de Inteligência Artificial).
Não é assim despiciendo olharmos para estes dois ciclos, ver a sua periodicidade e simultaneidade, procurando forjar antecipadamente respostas adequadas para tais ciclos disruptivos. As condições para tais existem, quanto à vontade, tendo em conta que toda a mudança implica em alteração de interesses instalados, isso já não sei bem.
Não deixo contudo de ter uma réstia de esperança, aguardando que o interesse geral prevaleça sobre os interesses egoístas e, possamos, ultrapassando os desastres que já nos assaltam, com saber e pragmatismo, evitar que o Antropoceno – era atual do mundo – não venha a ser o bem possível final da Humanidade.
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