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Quem é convidado vai…

Sábado, 24.03.18

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Um velho adágio ensinava que “a casamentos e batizados não vás sem ser convidado”. Sempre achei que este era um bom conselho para a vida e esforço-me por segui-lo o mais possível.

 

Vem isto a propósito de dois convites. Há umas semanas Passos Coelho foi solicitado a lecionar numa Universidade, com funções equiparadas a Catedrático. O coro de protesto de alguma esquerda quase foi submerso pelos cânticos laudatórios da empenhadíssima direita, apostada em denegrir tudo quanto à Geringonça diga respeito, e a glorificar a pobreza e mediocridade do liberalismo(?) passista.

 

Na passada semana um grupo de alunos, da Universidade de Coimbra, convidou Sócrates para dar uma conferência nas suas instalações. Os mesmos tenores que achavam naturalíssima a equiparação de Passos Coelho a catedrático, sem medir minimamente as distâncias entre os dois tipos de convites, entraram em fúria e desdizendo o que anteriormente afirmavam, em favor de Passos Coelho, vieram à liça bramindo contra tal ataque à dignidade académica.

 

Bando de papalvos pagos a peso de ouro para botarem comentário a favor dos interesses de quem lhes paga! Caso esses patuscos se assumissem como assalariados, nada teria a opor e consideraria mesmo o possível mérito de desempenho em relação às funções contratadas. Mas não! Querem aparecer como impolutos e equidistantes julgadores, confiando que o pessoal ande mais que distraído ou, embora nunca o venham a confessar, confiando na esperteza própria e na estupidez dos restantes, para pespegarem as suas opiniões parciais como factos comprovados, de impossível contradição. Dizendo fazer jornalismo ou comentário, formulam um discurso teológico que, em vez da verdade, busca, tão somente, demonstrar a justeza universal do seu pequeno dogma.

 

Ponhamos os pontos nos ís! Uma carreira académica faz-se através de um percurso de estudo e provas, inscreve-se numa profissão hierarquicamente definida e, neste momento, recorre a um conjunto enorme de pessoas, com provas dadas as quais, anos após anos, alguns durante décadas, esperam ansiosos se, no ano seguinte vão ou não ter o seu posto de trabalho assegurado ou se, com mais de quarenta anos de idade e muitos, muitos anos de serviço, se verão relegados para a fila das gentes muito qualificadas, sem possibilidades de pôr essa qualificação ao serviço do País e, com isso, assegurarem também o dia-a-dia das sua famílias.

 

Convidarem ex-primeiros ministros, ou qualquer outro profissional de qualquer ramo, com reconhecido mérito, para fazerem palestras nas Universidades, ou mesmo para ministrarem cadeiras temporárias, onde coloquem a experiência adquirida ao serviço dos estudantes e do País, não só não me parece mal como, se tal não for feito, considero estarmos perante um desperdício de conhecimentos, o esbanjamento de um atalho a facilitar o encontro da teoria com a prática. Já estabelecer contratos com equiparação a Catedrático, tendo em conta a longa lista de profissionais habilitados à espera, parece-me uma injustiça e um favorecimento indevido, seja ele feito a quem for.

 

Também acho injusto e fico furioso por me obrigarem a vir defender publicamente um homem por quem não tenho nenhuma simpatia e, como não estou obrigado ao segredo de Justiça, presumo seja responsável por muitos dos crimes em que está arguido. Tenho, porém, de conceder que tem sido destratado pelos média e pelo aparelho judiciário e prisional. Fizeram-lhe coisas inadmissíveis num Estado de Direito e eu tenho a veleidade de esperar que nele, todos os cidadãos sejam iguais e tratados de modo semelhante.

 

Não é o que vejo nos casos presentes e, de desigualdades, já estou farto. Sócrates foi convidado, foi só uma palestra, não tirou o lugar a ninguém, por isso foi e tem esse direito. Quem é convidado, se não recusar, vai…

 

Ou só os “amigos” têm direitos?

 

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 20:45