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Acordo Ortográfico

Domingo, 12.02.17

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Cansado de, no Face Book e em outros locais, explicar as razões porque, embora com reservas, apoio a manutenção do Acordo Ortográfico, decidi render-me.

 

Não só vou esquecer-me de todos estes anos em que a escola tem andado a preparar as novas gerações para escreverem em concórdia com ele, como nem sequer me vou lembrar de estarmos por mais velhos, a maior parte, biologicamente condenados, restando, nos anos futuros, todas as gerações que escreverão como aprenderam, as quais, se alguma vez tal situação se colocar, não perceberão o que levou a tanta discussão sobre uma forma de escrita que, está-se mesmo a ver, só poderia ser conforme se habituaram a escrever. Provavelmente serão visceralmente contra putativo acordo a ganhar corpo por essa altura…, digo eu!

 

Irei mesmo mais longe nesta rendição. Serei radical, consequente. Porei, por tanto, de parte todos os acordos e formas de grafia que me antecederam, voltarei à pureza das origens. Espero que os detratores do Acordo me acompanhem nesta cruzada que será absolutamente inequívoca para quem pensa ser a língua um monumento monolítico, fixado de uma vez para sempre.

 

Ora aqui vai:

 

“(…) Dom Diego Lopez era mui boo monteiro, e estando hum en sa armada e atemdemdo quamdo verria o porco, ouuyo cantar muita alta huuma molher em cima de huuma pena; e el foy pera la e vio-a seer muy fermosa e muy bem vistida, e namorou-sse logo d’ella muy fortemente e pregumtou-lhe quem era; e ela lhe disse que era huuma molher de muito alto linhagem, e ele lhe disse que pois era molher d’alto linhagem que casaria com ela se ela quisesse, ca ele era senhor d’aquella terra toda; (…)

 

Ora aqui fica a minha determinação de defesa da pureza e imobilidade da língua. Não voltem, por favor, a vir-me com as asneiras recorrentes e mal-intencionadas de cagado por cágado e de fato por facto. É falso! Já chega! Escrevam como quiserem. Tanto se me dá. Não se submetam, porém, a nenhum exame oficial porque irão chumbar. Não poderão ressalvar “o examinando escreve com ortografia anterior ao Acordo.” Ninguém vos levará a sério, é um risco!

 

Fiquem bem, satisfeitos e em paz! De acordo?

 

 

Publicado em Rostos on line

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publicado por Carlos Alberto Correia às 00:14


3 comentários

De ICE a 12.02.2017 às 03:27

'Tá engraçade... Como diria Jorge Jesus. Ou seja, se amanhã mudassem para a escrita SMS, você concordaria logo, porque a ortografia anteriormente já tinha mudado, não é? Agora debruçar-se em concreto sobre as mudanças, 'tá quieto. Mas que grande lógica (da batata)...

De Carlos Alberto Correia a 12.02.2017 às 12:03

Caro ICE: O seu argumento é tão inconsistente como o ICE ao Sol. Em primeiro lugar elide a longa discussão havida entre as Academias e os técnicos dos países subscritores. Em segundo lugar, e tal não deverá ser muito importante(?!), o Acordo foi legalmente fixado, pelo que, em principio, com ou sem adesão pessoal, passou a ser a forma legítima e legitimada de ortografia. Depois a leitura da algo sobre a História da Língua (talvez passar por Júlia Ktisteva não fosse mau de todo) permitir-lhe-ia perceber como a língua é mutável. E muda por dois caminhos: Popular e Erudito, sendo posteriormente os usos tornados cânones. Não, não aceitaria de mão beijada a linguagem SMS e sim, um dia poderá vir a ser aceite como forma correta de escrita. Não me cabe decidir como se escreve corretamente. Cabe-me estudar e ,com ou sem vontade, aceitar o que a Academia dicionariza. Como vê, se há lógicas que são batatas, não , se referiu.


De Anónimo a 12.02.2017 às 12:12

Adenda ao post anterior que saiu truncado:

Como vê se há lógica da batata não será a do meu comentário, nem a to texto inicial a que tão jocosa e levianamente se referiu. Aí sim, a lógica o é da batata ou escrita ao correr das teclas sem tempo de reflexão.

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