...
tema da solidão IX
( in, Penélope e outras esperas)
por vezes escrevo
como quem luta
outras
como que disfruta
do modo
da conduta
o importante é agarrar
a frase o lento murmurar
por dentro da palavra
o importante é descobrir
o senso que oculta
porque conhecer é desconhecer inicialmente
o resto é a semente
com que se emprenha o futuro
às vezes a palavra tem um muro
onde se esconde deusa refratária
contra a palavra invisto
nesse tempo
a palavra é um silêncio
que se recusa
e contra mim atenta
outras vezes desliza
é fio de água
ribeiro a correr nos roseirais
onde os peixes passam
átomos originais
assim a palavra se revela
se obstina ou se rebela
criando esta tensão
que me percorre
no silêncio ou no grito
com que se morre
palavra cuco império é a palavra
edifício construído sobre o nada
que é o ar a sílaba modulada
assim entendo o meu campo
a minha lavra
como lavrador me angustio
se o tempo não convém
à sementeira
mas sempre no inverno
ao som do frio
no meio da solidão onde me ostento
ponho as minhas palavras
na fogueira
Autoria e outros dados (tags, etc)
4 comentários
De Domingos Pimenta a 22.03.2015 às 20:50
É do Carlos...
De Carlos Alberto Correia a 23.03.2015 às 18:54
Carlos
De Maria Barradas a 08.12.2016 às 14:49
grande abraço!
Quero deliciar-me com mais...
De Maria Barradas a 08.12.2016 às 18:44
bailam
dançarinas
nas lentes dos meus óculos,
e espreitam
e sorriem, enganando-me nas voltas
convidando-me a dançar
à volta da cabeça
entontecendo-me
se emaranhando nos cabelos
que teimo em alisar.
Quando assim surgem,
tapando a pouca luz do fim do dia
e se arremessam de jacto no papel
não posso fazer mais do que escrevê-las.
Pois escrevendo-as,
posso voltar a ser como me desenho.
E me espelho.