...
trasladação
lá vais Sophia
no que resta do teu corpo
(como uma Inês sem sossego)
no armão
a bandeira verde rubra
cobre-te de portugal
apontadas ao céu
depois ao chão
querem as armas dizer
da diferente direção
mas será mesmo Sophia
claro
estamos em democracia
dantes apontavam-se-te ao coração
pois Sophia
nesse tempo não tínhamos
democracia
vais muito de morta
mais ainda do que na morte estavas
esquecendo as chicotadas
os vendilhões dos tempos
pensam blandícias
usurpam-te as palavras
é verdade Sophia
é por causa da democracia
sorriem agora
no louvor da arte
pelos caminhos
esquecem de sua parte
no frio da pedra
o nome já gravado
nas praças da liberdade
na verdade Sophia
é linda a democracia
pouco se lembram de ti
nos jardins quase desertos
em praias de mentes lavadas
ingrinas de alvorecer
ai Sophia
esta democracia
roubar-te-ão no vento
as palavras de ousadia
porque os outros se mascaram mas tu não
e os seus gestos dão sempre dividendos
ficarás presa
desta democracia
já sem poder dizer
ao verbo animador dos teus sentidos
da clara manhã
onde não podem habitar
mas deles é o verbo a sobrepor-se
agora
à tua voz de mudar o mundo
é tão fresquinha sophia
a nossa democracia
um dia saberão
que tudo o resto é vão
mas
por enquanto
eis-te exposta
na pedra sepultada
incapaz de respostas
que possam ocorrer
vês sophia
o estado da nossa democracia
apenas
para memória futura te direi
jamais servirei senhor que possa morrer
isto
enquanto ainda houver
neste país
democracia
sophia