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Sexta-feira, 04.07.14

 

trasladação

 

lá vais Sophia

no que resta do teu corpo

(como uma Inês sem sossego)

 

no armão

a bandeira verde rubra

cobre-te de portugal

 

apontadas ao céu

depois ao chão

querem as armas dizer

da diferente direção

 

mas será mesmo Sophia

 

claro

estamos em democracia

 

dantes apontavam-se-te ao coração

 

pois Sophia

nesse tempo não tínhamos

democracia

 

vais muito de morta

mais ainda do que na morte estavas

 

esquecendo as chicotadas

os vendilhões dos tempos

pensam blandícias

usurpam-te as palavras

 

é verdade Sophia

é por causa da democracia

 

sorriem agora

no louvor da arte

pelos caminhos 

esquecem de sua parte

no frio da pedra

o nome já gravado

nas praças da liberdade

 

na verdade Sophia

é linda a democracia

 

pouco se lembram de ti

nos jardins quase desertos

 em praias de mentes lavadas

ingrinas de alvorecer

 

ai Sophia

esta democracia

 

 

roubar-te-ão no vento

as palavras de ousadia

 

 porque os outros se mascaram mas tu não

e os seus gestos dão sempre dividendos

 

ficarás presa

desta democracia

 

 já sem poder dizer

ao verbo animador dos teus sentidos

da clara manhã

 onde não podem habitar

mas deles é o verbo a sobrepor-se

agora

 à tua voz de mudar o mundo

 

é tão fresquinha sophia

a nossa democracia

 

um dia saberão

que tudo o resto é vão

 

mas

 por enquanto

eis-te exposta

na pedra sepultada

incapaz de respostas

 que possam ocorrer

 

 vês sophia

o estado da nossa democracia

 

apenas

 para memória futura te direi

 

jamais servirei senhor que possa morrer

 

isto

enquanto ainda houver

 neste país

 democracia

sophia

 

 

 

 

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publicado por Carlos Alberto Correia às 16:40