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A casa do esquecimento

Quinta-feira, 24.02.11
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Deambulam de lado para lado sem desígnio aparente. No entanto buscam algo que não sabemos, ou não sabemos se sabem. Percebe-se apenas a inquietude resultando nas idas sem destino para lado nenhum. Recolocam-nos nos lugares que lhes estão destinados para de novo, sem qualquer prenúncio, abalarem diretos a nada ou a todos os lados que a memória já não distingue e a vontade não nomeia. Param, por vezes, junto de ti e olham-te, sem ver, na busca de uma qualquer ideia de rosto ou de passado. Continuamos sem saber se procuram ou o que procuram. São perfeitos enigmas deslizando fantasmagoricamente para lado nenhum.

Mesmo que sejas quem talvez eles queiram reconhecer não te percebem no olhar onde só nadam ausências. É estranho! É aflitivo!

Por vezes pensas que te vão falar e, expectante esperas. Falso alarme. A boca pareceu querer mover-se, uma pequena centelha ardeu no olhar, o corpo esforçou-se para se abrir, mas nada. De novo a impotência e a solidão de um corpo que se desenha na incomunicabilidade. Tão sozinhos! Tão desamparados! Será que vêm? Que percebem? O que falha? Não sabem dizer-nos. Não sabemos distinguir. É um frio sem vento, um gelo sem água, um corpo quase sem amarras.

A sua estranheza destrói todos quanto com eles convivem diariamente. Não nos reconhecem! Exigem, sem saber, cuidados constantes. Vive-se para eles vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Não sobra espaço para mais nada. Vampirizam, inconscientes, a vida de quem os rodeia.

Sabes quem eu sou amor? Não sabem ou não sabem dizer que sabem. O desespero toma retrato nos olhos vagos, na, por vezes, doce demência da completa ausência. Parece não existir nada naqueles espíritos. Mas deverá existir, não é? A natureza, diz-se, tem horror ao vazio. Como existir para eles o tempo todo se nada dizem, ou sentem, ou transmitem? De novo o desespero. Onde guardá-los, a estes anjos deslizantes, se pouco sítios há para tal? E os custos do internamento sempre maiores que grandes? Volta o desespero a martelar os dias de quem com eles os vive. Mas não há nada a fazer? Que querem, não se pode chegar a tudo. Eles apenas incomodam os próximos, não é? Mas assim os próximos estão condenados ao inferno! Ora, o que se lhes há de fazer? Segue o discurso descomprometidos de pessoas, grupos e instituições a quem o problema toca de leve. A cruz é dos atingidos. É pena! Nada podemos fazer!

Por isso, há poucos dias, um senhor na casa dos oitenta, com a esposa de idade próxima sofrendo de Alzheimer, estrangulou-a suicidando-se de seguida. A sociedade compungida pôs lutos de sofrimento, encolheu os ombros e seguiu em frente. E tu. E eu. Que vamos fazer? Provavelmente esperar até que a desgraça nos bata à porta e depois, rodeados de impossibilidades, usarmos as mãos com que nos amámos para, num derradeiro gesto de amor, encerrarmos as portas da casa do esquecimento.

Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

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publicado por Carlos Alberto Correia às 23:47

“Colossal irresponsabilidade”

Segunda-feira, 14.02.11
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Sento-me num desanimado desconforto. Não posso compactuar com a arrogância de um primeiro-ministro que recusa a um partido, por não ser do “arco governamental” – e aqui vejo a imagem de um retesado arco desferindo a flecha do poder no coração de quem quer que ouse expressar opiniões próprias distintas daquelas que lhe interessaria escutar – o direito de apresentar uma moção de censura, a qualquer tempo e do modo que lhe interesse, quando se sinta afrontado com os atos do poder, rotulando o exercício de tal direito como uma “colossal irresponsabilidade”.

É esta insolência que me dispõe mal e me leva a, contrariando a corrente principal, apoiar, embora com alguma relutância, a declaração de intenções do Bloco de Esquerda produzida no quadro parlamentar que lhe é próprio e no momento que os seus órgãos decisores consideraram apropriado. Admito que não lhe agrade a chamada à realidade, retirando-o do mundo onírico onde vive - ou pelo menos, que nos quer impor - mas não tolero a deriva elitista e autoritária que tal posicionamento pressupõe.

Embora, ao falar nestas coisas, me ocorram expressões como malhar em ferro frio e bater no ceguinho, não posso deixar de sentir a pressão dos muitos malefícios para o “nobre povo”, em que este governo tem sido pródigo, sempre apresentados como verdadeiros benefícios (do tipo o que arde é que cura) embora com efeitos positivos remetidos para prazo tão dilatado que tornam próximos os amanhãs que cantam. Já não há pachorra para o discurso triunfalista dos nossos governantes sempre a colidirem com o cada vez mais difícil dia a dia do Zé pagante. Para não esgotar a paciência dos nossos amigos deixem-me recordar apenas o aumento de lucro dos bancos com a concomitante descida da percentagem e volume de impostos pagos, contrastando com o facilitar e embaratecimento dos despedimentos. Claro, tudo em nome de aumento do nível de emprego e do bem do povo. Está-se mesmo a ver e, como se diz em “eseemeessês”: Lol!

Declaro com toda a modéstia possível que se tivesse de decidir pelo Bloco, não apresentaria tal moção neste momento. Penso mesmo que esta declaração foi apressada e não terão sido bem ponderados os efeitos subsequentes. É uma opinião pessoal e não envolve nenhuma quebra de solidariedade com o projeto político do Bloco. Considero também ter a moção algumas virtualidades sistematicamente ignoradas. A primeira é a de quebrar a pacatez do charco onde as medidas económico-políticas se vão desenrolando. Alguém terá de fazer soar o alarme e informar os senhores do poder que mesmo podendo não ter forças suficientes para obstar à consumação das iniquidades que sofremos, não nos deixamos enrolar nos rodriguinhos do discurso oficial e estamos e estaremos sempre prontos para o denunciar, confrontando-o simplesmente com a realidade. A segunda é obrigar os partidos da direita, untuosos opositores das medidas do governo - não porque não lhes agradem mas sim porque não as consideram suficientemente profundas e rápidas - a saírem da posição de sagrada hipocrisia onde medram e a terem de, à luz do dia e de cara descoberta, ao votarem a moção, demonstrar, sem rebuços, de que lado estão e qual é a verdadeira face das suas políticas. Como isto não agrada a ninguém, do PS para a direita, desconfio que haverá algo de positivo a nascer desta ação.

Aos fáceis acusadores de possíveis ineficácias, ou irresponsabilidades, desta causa, advirto para que não se peça, a quem tem uma fisga, que dispare um canhão. Será de maior justiça e inteligência verificar se a fisgada atingiu ou não o alvo. Pelas reações apaixonadas parece que, apesar de tudo, David contínua a acertar em Golias. Pelo menos no sentido em que Manuel Alegre (em quem não votei) diz: “Eu vim para incomodar”!

Isto, no momento que corre, é já em si, bastante!


Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

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publicado por Carlos Alberto Correia às 14:24

balada para a destruição dos monstros

Sábado, 12.02.11
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Foi escrita para a morte de outro tirano mas, para este que agora tombou, também serve


se fosse abutre voava
em círculos no céu redondo
como um foguete no ar
como um foguete no estrondo

como se asas nascessem
assim nasce a alegria
morto de morte o tirano
morte mate a tirania

fosse eu hiena e ladrava
de noite e lua os gemidos
morte de quem projectou
ter os povos possuídos

como se asas nascessem
assim nasce a alegria
morto de morte o tirano
morte mate a tirania

Carlos Alberto Correia

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publicado por Carlos Alberto Correia às 00:28

jacques Brel _ La Chanson des Vieux Amants

Quarta-feira, 09.02.11

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publicado por Carlos Alberto Correia às 14:36