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O tempora! O mores!

Quinta-feira, 04.09.08

O latinismo que encabeça esta crónica não significa, como pensaria o Belegário, uma saudosa evocação ao "tempo das amoras". É, como reza o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, uma exclamação, feita por Cícero, significando: O tempo! Ó costumes! e que, em livre tradução camoniana, quererá dizer "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades."
Porque venho eu a lume com estas tíbias erudições? Perguntam V. Excelências; e perguntam muito bem!
É que, estando de ripanço vilegiatural telefona-me o Belegário, aflitinho da vida, dizendo apressado:
- Eh! Pá! Sabes da bronca?
Eu não sabia da bronca nem estava muito interessado em sabê-la. Só que o Belegário, lapa como é, não desligava do assunto. Por isso, após muitos "tens que saber", lá lhe dei espaço para baldear a boca.
Confesso que fiquei lorpa!
Não era então que, por um atraso de entrega de candidatura, a Câmara Municipal do Barreiro tinha visto recusar a possibilidade de obter um subsídio de mais de três milhões e meio de euros?!
Pensei cá para comigo: Bem, no melhor pano cai a nódoa. O Presidente Carlos Humberto não vai seguramente deixar passar em claro um facto de tanta gravidade. Vai, certamente, submeter os serviços a um inquérito profundo e aproveitará esta situação para melhorar os serviços camarários. Quanto a mim um erro pode ser um facto positivo se servir para aperfeiçoar os sistemas, os quais, por si próprios, são sempre incompletos, carecendo de medidas correctivas cada vez que a sua imperfeição seja denunciada. Encaremos o facto como uma possibilidade de aperfeiçoamento.
Isto mesmo transmiti ao Belegário.
Tá, tá, tasquinhou ele, desdenhoso. Nem penses nisso. O homem parece não dar muita importância ao caso. O facto é que, em Assembleia Municipal, tentou matar o assunto afirmando assumir a responsabilidade política. E diz-me tu, contra-atacou, o que é isso de responsabilidade política sem consequências? São apenas palavras, não é verdade? O resultado disto é que o PS veio a terreno a exigir a demissão do Presidente.
Patenteio a minha perturbação!

Lembrei-me do orgulho que senti quando na televisão vi o Carlos Humberto, defrontando adversários poderosos, sobressair emocionado e sereno (não é contraditório, não senhor!) a defender a localização do aeroporto, da ponte, na ideia magnifica que fez sua, do arco ribeirinho e da conquista, para o Barreiro, de uma centralidade que lhe é devida e lhe vem sendo continuamente negada. Recordei-me da anterior Câmara e apercebi-me que, não sendo correligionário do Presidente, não concordando politicamente com muitas coisas que fez, seria ele, porventura, um dos melhores autarcas que ao Barreiro foi dado ter. E fiquei com pena!
Considero que o Presidente foi infeliz na posição que sobre o caso tomou. Espero que venha a reconsiderar e, Presidente de todos nós, putativas questões partidárias possam ser ultrapassadas em nome de um bem mais geral que é o da inteira comunidade Barreirense. Mas isto exige a coragem de reconhecer que o erro existiu e, será ou não total ou parcialmente desculpável, consoante um necessário e inultrapassável direito de esclarecimento completo das circunstâncias e das pessoas que conduziram a este desastre, bem como das medidas correctivas tomadas para obviar futuras ocorrências.
A Assembleia Municipal é o local onde tais esclarecimentos deverão ser prestados. Gostaria que tal acontecesse com muita brevidade. Continuando as posições camarárias fechadas ao esclarecimento, desgostado embora, não creio que pedir a demissão do Presidente sirva de qualquer remédio. Será apenas oportunismo partidário sem garantias de que qualquer coisa melhor. O Presidente deve continuar mesmo que não consiga superar os constrangimentos que eventualmente possam tolher a sua actuação. Os mandatos populares são para cumprir e sem estar provada uma implicação directa do Presidente no caso, ninguém tem o direito de ultrapassar a vontade popular livremente expressa.
O resto é com a consciência do homem e com a valoração que, em próximas eleições, o Povo venha a fazer, em jeito de balanço, da governação deste executivo camarário.


Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt/

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publicado por Carlos Alberto Correia às 18:33